Leitura de até 3 minutos
Moradores das quadras 207 e 208 Sul se unem em defesa do verde.
“Estamos perdendo o charme das quadras. Estão acabando com o nosso prazer de andar por entre as árvores, pois elas estão sumindo”, lamenta a moradora da 207 Sul Lucília Barbosa, nascida e criada em Brasília.
Na disputa de espaço entre o verde e o concreto, a comunidade que vive na região da 207 Sul saiu em defesa do seu patrimônio maior: as árvores de mais de 40 anos entre a quadra comercial e a residencial. Estamos falando de pessoas que têm um laço afetivo com a paisagem bucólica do seu pedacinho de Brasília, que é uma referência tão positiva da cidade. Árvores da quadra foram colocadas abaixo para dar lugar a um novo ponto comercial. Mas, graças ao barulho da comunidade, um movimento cresce para que o governo impeça a continuidade da obra.
A Novacap fez uma vistoria e encontrou dois ipês, dois flamboyants e uma palmeira no local. E pela presença de duas árvores nativas, os ipês, alertou os responsáveis pelo empreendimento a procurarem o Instituto Brasilia Ambiental (Ibram), para conseguir a autorização para a derrubada dessas espécies, como previsto em lei. O Ibram ainda está analisando o pedido.
Protesto
O espaço foi cercado há dois meses com tapumes. Nessa área, destinada ao RUV (Restaurante de Unidade de Vizinhança), há espécies raras de vegetação. Os moradores realizaram várias manifestações nesses dois últimos meses. “O verde que defendemos é o verdadeiro patrimônio de Brasília e deve estar acima de interesses particulares”, disse a moradora. Os protestos conseguiram sensibilizar as autoridades. Apesar de a obra não ser ilegal, a reivindicação dos moradores é considerada justa. O GDF tenta uma forma de acordo com o proprietário para trocar a área alvo da polêmica por outra, em outra região. “Existe a possibilidade, sim, de reverter. Acho legítimo o movimento dos moradores”, diz o secretário de Habitação, Thiago de Andrade.
É importante uma discussão sobre as novas demandas da cidade.
Para urbanistas, a questão não é de legalidade, é atender à real necessidade da população. “É importante uma discussão sobre as novas demandas da cidade. Não vejo demanda para a construção de RUVs nessas áreas”, reforça o arquiteto, especialista em Gestão Pública, Cristiano Souza, 44 anos, integrante do grupo Urbanistas por Brasília. Ele explica que os RUVs fazem parte do projeto original para a Asa Sul. Mas, no plano inicial, o espaço deveria ser ocupado por restaurantes que servissem à comunidade. A norma, porém, foi alterada e hoje são permitidos usos comerciais similares aos que já existem em outras superquadras.
Distorções
“Os comércios locais já sofrem grandes distorções causadas pelos puxadinhos. Estes aumentaram muito o impacto na quadra, além do que estava previsto para a área. Assim , ocorrem congestionamentos e falta estacionamento”, alerta o arquiteto.
A mãe do governador Rodrigo Rollemberg mora na quadra ao lado e, recentemente, ele, que estava na região para visitá-la, foi abordado por moradores, que o levaram ao local cercado por tapumes. O governador prometeu ajudar a intermediar uma solução. A Câmara Legislativa do Distrito Federal também aprovou, por unanimidade, em 11 de maio, moção pública em favor dos moradores e vizinhança das SQS 207 e 208.
A história ainda não tem um fim. Pode ser que não seja o que os moradores tanto querem. Mas, ao assumirem o papel de atores principais no zelo da cidade, já fazem a diferença e talvez consigam impedir que outras situações como essa se repitam. Pessoas que nem se conheciam se uniram pelo verde e promoveram um abaixo-assinado pedindo o fim da obra, que já conta com 500 assinaturas. Como dizia o escritor russo Leon Tolstoi: “Para ser universal basta cantar o seu quintal”.
Acompanhe também a entrevista com o secretário de habitação, Thiago de Andrade.
Colaboração de Samantha Fukuyoshi
Nenhum comentário