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Olhar Brasília
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Samanta Sallum

S.O.S. Dia dos Namorados

Namorando ou não, cuidado para não cair numa cilada. A melhor aposta do dia pode ser aquela que está fora do script 

O tal dia tinha caído num sábado de plantão no jornal, onde eu trabalhava. Estava naquela situação que quase todo mundo já passou. A famosa transição, o chamado “meio tempo”, a solteirice entre um relacionamento sério e o próximo. A angústia do dia era pressentir que quem eu queria não apareceria. E quem eu não queria se apresentaria. Vocês sabem que uma situação agrava a outra.
Me enterrei no trabalho e evitava olhar o celular. No fim de tarde, já estava em casa. Logo aquele plantão tinha sido calmo, nem uma pauta emocionante para me tomar o tempo e me fazer chegar tarde. O friozinho de junho em Brasília me convidou, então, a tomar banho quente, lanchar e me jogar cedo da noite na cama. O mais importante: desligar o celular! Acabaria com a angústia. Fui me esconder debaixo do cobertor e tentar não pensar. Nem quis ligar a televisão, porque até o noticiário remete ao dia dos pombinhos. Os filmes eram aquele festival água com açúcar. Nesse tempo, não tinha NetFlix!

É muita cobrança, muita necessidade de agradar ao outro, atender as expectativas, fazer aquela coisa marcante. Tem gente que dá presente querendo competir com tudo que o outro já ganhou dos namoros anteriores. Vira uma paranoia.

Mas o meu plano não durou nem meia hora. Não aguentei ficar lá encolhida dentro da minha “cabaninha” e fui atrás do celular. Religuei. Enquanto eu examinava se havia alguma novidade, uma ligação explodiu na minha tela e eu logo atendi sem saber direito quem era. Para minha surpresa, não era nem quem eu queria nem aquele que eu não queria. Mas uma outra pessoa que nem estava na minha bolsa de apostas do dia.
-“Vamos sair? Tá de bobeira?”
– Sim, vamos sair.

TORTURA
Meu interlocutor foi de uma decisão e naturalidade apaixonantes. Eu me casei com esse moço. Mal sabia que, com aquela ligação no Dia dos Namorados, eu estaria ganhando um marido. Aquela noite foi ótima, porque não saímos como namorados nem estávamos preocupados com a conotação que isso teria. O único significado relevante era o contrário, que ambos estavam solteiríssimos. E, por acaso, viramos namorados. Um ano e meio depois, nos casamos. Isso aconteceu há mais de uma década. E, alguns anos atrás, nos separamos, numa boa.

A chance de essa história se repetir é muito pequena. Não estou aqui para criar ilusões. Mas existem outros 364 dias no ano para que aconteça algo parecido para mim e para qualquer um. O que quero dizer é que esse negócio de Dia dos Namorados pode ser muito legal, como pode ser uma cilada, uma tortura para quem está namorando. Pois, é muita cobrança, muita necessidade de agradar ao outro, atender as expectativas, fazer aquela coisa marcante. Tem gente que dá presente competindo com tudo que o outro já ganhou dos namoros anteriores, vira uma paranoia.

Romantismo tem limite 
Se você não estiver namorando, relaxe também. Pense que não precisa perder horas tendo de escolher o presente perfeito nem fazer reserva em restaurante, enfrentar fila. Gente, vamos ser realistas; às vezes estressa. Me lembro de uma data dessas em que eu estava em São Paulo a trabalho e fiz o possível e o impossível para embarcar num voo. Cheia de romantismo, eu chegaria a tempo de estar com o meu namorado à época.
Eu comi o pão que o diabo amassou para conseguir estar no voo das 19h. A reserva do restaurante era para as 21h. “Eu vou, meu amor! Pode me esperar! Eu vou!”, eu garantia ao telefone no aeroporto. Cena linda, glamour zero. Depois de enfrentar um megaengarrafamento paulista, eu estava em meio ao inferno na Terra. O aeroporto estava abarrotado, voos atrasados, pessoas gritando. Eu fiquei presa no avião por mais de 1 hora, ele não decolava por causa daquelas greves-relâmpago dos controladores de voo, eu chorava … Tanto sacrifício para nada.
Pisei em Brasília já passava das 23h, acabada, exausta, com fome e de mau humor. O presente que eu pedi a ele foi: “me deixa ir para casa dormir”. Eu não tinha força nem para conversar. Teria sido melhor ter embarcado no dia seguinte, como era o previsto, ter ligado para ele ao estilo Steve Wonder “Just to say I Love you”, dormir bem e chegar linda e refeita do cansaço de tanto trabalho em SP. Talvez ele mesmo também preferisse isso.
Então relaxe se você está namorando (desculpem os casados, pois não estou falando hoje com eles, apesar de achar muito legal os que comemoram a data). Superproduções nos deixam exaustos antes mesmo de a gente encontrar nosso amor. Não cobre de si nem do outro fazerem a data inesquecível. Não se culpe por não conseguir.
Ps- Dos cenários que tracei, nenhum se realizou. Então, não perca tempo com angústias. A melhor aposta do dia pode ser aquela que não estava no jogo.

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2 Comentários

  • Reply
    Suelly Faria da Rocha Spiegel
    12/06/2017 at 08:56

    Texto tao lucido e verdadeiro! Um verdadeiro presente para este Dia dos Namorados, desmistificando tudo que pode transformar uma celebracao em estresse. Parabens, Samanta mais uma vez.

  • Reply
    José edson
    12/06/2017 at 19:33

    Eita moça lúcida e corajosa! É isso aí. Assim caminha a humanidade, entre erros e acertos encontramos o nosso caminho. Deixa a vida me levar, vida leva eu, o destino está traçado e deixo nas mãos de DEUS.

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