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Olhar Brasília

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Marcia Zarur

Engarrafamento, o mal desnecessário

Não há nada mais irritante do que engarrafamento! Especialmente se você cresceu na Brasília das ruas largas, poucos carros e quase nenhum sinal de trânsito, como nessas fotos. Era possível atravessar o Plano Piloto de uma ponta a outra num piscar de olhos. O brasiliense se vangloriava de chegar a qualquer lugar em 15 ou 20 minutos, a qualquer hora do dia.

A W3, uma das poucas vias que ganhou sinais, tinha a ‘onda verde’ e se você mantivesse velocidade constante de 60km pegava todos os semáforos abertos. Trânsito não era nem parecia que um dia seria problema na cidade planejada. Ledo engano.

Não demorou muito pra que Brasília entrasse no ranking das cidades onde mais se gasta tempo dentro do carro. Na última pesquisa do IPEA, estávamos em sexto lugar entre as cidades brasileiras. Que vergonha! Perdemos cerca de 1 hora e meia no deslocamento para o trabalho e em horário de pico a velocidade média é de 12km/h. Que tal?

A realidade já sabemos, mas qual é o futuro que se desenha? A resposta para minimizar os problemas é óbvia – priorizar o transporte público de qualidade.

Atualmente, o governo está trabalhando duro pra dificultar ao máximo a vida de quem usa o carro. O novo código de obras, por exemplo, prevê menos vagas para estacionamento nos prédios que serão construídos, e há o plano de cobrança pra quem parar o carro na área central, hoje gratuita.

O desestímulo ao carro faz todo sentido, desde que haja alternativa. O governo argumenta que nos países desenvolvidos é assim que funciona, só esquece um detalhe: lá é possível andar pelas cidades em ônibus, metrô ou bondinhos que fazem jus ao primeiro mundo em pontualidade e conforto.

Já que, infelizmente, não podemos nos teletransportar para os lugares, nos resta acompanhar de perto as decisões que vão impactar diretamente na nossa qualidade de vida, porque o engarrafamento nosso de cada dia é um mal absolutamente desnecessário.

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Acompanhe a entrevista com o professor da UnB David Duarte Lima, especialista em trânsito e um grande defensor de um investimento maciço no transporte coletivo. Ele acredita que as medidas do GDF para apenas punir os motoristas não darão o retorno esperado. Podem, no máximo, aumentar um pouco o compartilhamento de veículos na chamada carona solidária.

 

Marcia: As pessoas vão continuar usando o carro, mesmo com a falta de vagas gratuitas?

David Duarte: O transporte público de Brasília é hostil aos passageiros. Ônibus cheios são terríveis. As pessoas ficam expostas a assaltos, assédio e passam, às vezes, 1 hora “enlatadas” dentro dos ônibus. Então, a tendência é de que elas continuem usando o transporte individual. E os maiores prejudicados com essas medidas serão aqueles com menos poder aquisitivo, que já têm de 20 a 25% da renda consumidos com a mobilidade.

Marcia: Como inverter essa lógica cruel?

David Duarte: O transporte público precisa ser atrativo, com tarifa competitiva, rapidez no trajeto, conforto, segurança, pontualidade, frequência e acessibilidade tanto para pessoas com dificuldades, como no acesso de pegar o passageiro mais perto de sua origem e deixá-lo mais perto de seu destino. Enquanto o passageiro não encontrar isso no transporte coletivo, ele vai optar pelo individual, nem que seja se deslocar de moto. O que tem se tornado outro problema, com número crescente de motociclistas envolvidos em acidentes.

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6 Comentários

  • Reply
    Sandra Beatriz
    12/06/2017 at 12:59

    Realmente este é um problema que desgasta o dia a dia dos moradores de Brasília e piora consideravelmente a qualidade de vida da capital. Principalmente dos moradores das cidades-satélites e dos condomínios, que além de enfrentarem a distância, ainda demoram a chegar ao trabalho em consequência dos engarrafamentos.

    • Reply
      marcia zarur
      14/06/2017 at 12:05

      De fato, o trânsito é um dos grandes desafios que o DF vai ter que enfrentar.

  • Reply
    André Giusti
    13/06/2017 at 23:05

    Olha, não sei se o governo está desestimulando o uso do carro não, viu? O Trevo de Triagem Norte, para mim, é a comprovação de que não está. Em vez de VLT, metrô, ônibus com horários e itinerários que realmente sirvam a população, o que se faz é andar pra trás, retroceder, construindo aquele monte de viaduto, que em poucos anos já estarão esgotados. Brasília não está parada no engarrafamento. Está andando pra trás quando oa ssunto é mobilidade.

    • Reply
      marcia zarur
      14/06/2017 at 12:01

      Muito bom ter a sua contribuição nessa reflexão, que é fundamental pra cidade. Acho que há medidas sim, especialmente em relação à estacionamento, que vão punir os motoristas. Mas como eu disse: são necessárias, desde que haja alternativa. Concordo com você que o Trevo de Triagem Norte é muito preocupante, especialmente em relação às questões ambientais. E você tem toda razão quando diz que estamos andando pra trás na mobilidade. Precisamos investir em transporte coletivo, especialmente em trilhos!

  • Reply
    Marcela
    06/07/2017 at 19:56

    A única solução para isso é melhorar o transporte público, não tem outra forma! Queria eu andar de metrô com a eficiência de Londres, ou NY. Uma pena tudo aqui ser perigoso, ou cheio, e principalmente caro!

    • Reply
      Marcia Zarur
      23/07/2017 at 20:20

      Você tem toda razão! A única saída é o investimento no transporte coletivo, que precisa ter qualidade, pontualidade e conforto.

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