Arquitetos alertam que áreas no Plano Piloto são ocupadas por atividades muito superiores às que comportam
Arquiteta atuante na defesa urbanística de Brasília há mais de 40 anos, Vera Lúcia Ramos denuncia que os comércios no Plano Piloto tomaram uma proporção muito maior do que a prevista pelo urbanista Lucio Costa. “Sucessivos governos permitiram que se instalassem estabelecimentos de maior porte nas áreas, destinadas aos Restaurantes Unidades Vizinhança, muito superiores ao que esses locais comportam. A construção de mais um minisshopping, por exemplo, no caso da SQS 207, agravaria o caos.”
Seria de uma irresponsabilidade grande construir mais edifícios, mais polos geradores de tráfego nas unidades vizinhança. Nesse caso, a escala residencial é a prioridade, as superquadras, os moradores”, afirma Vera Ramos
A arquiteta explica que a proposta original do Plano Piloto previa que grandes estabelecimentos, como restaurantes de maior porte, bares, academias e shoppings, ficassem em locais como Setores Comerciais e Hoteleiros. “Empreendimentos como estes minisshoppings, grandes restaurantes, deveriam ser instalados na escala gregária, cuja essência é agregar pessoas,” aponta a presidente em exercício do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro do Distrito Federal (IGHB-DF).
Ela defende que nos casos, com a polêmica do RUV da 207 Sul, se prevaleça a “escala residencial”. “Seria de uma irresponsabilidade grande construir mais edifícios, mais polos geradores de tráfegos nas unidades vizinhanças. Nesse caso, a escala residencial é a prioridade, as superquadras, os moradores”, afirma.
Os motoristas não têm onde estacionar e acabam parando quase que no meio da pista, Lucília Barbosa.
A ocupação de algumas áreas verdes por pontos comerciais, mesmo tendo amparo legal, promove agora um novo debate sobre a real demanda das comunidades que vivem próximas. Os moradores da SQS 207 e da vizinhança, que se mobilizaram contra a retirada de árvores do local, querem evitar a ocupação da forma como ocorreu em outros pontos do Plano Piloto, por exemplo nas comerciais das Superquadras 213 e 216 Sul (fotos). Os moradores da região, além de terem uma relação afetiva com o espaço verde, que foi cercado com tapumes, temem mais impacto no trânsito com a pressão por vagas de estacionamento.
“Um exemplo é o que ocorre às margens da comercial da 213 Sul. Os motoristas não têm onde estacionar e acabam parando quase que no meio da pista por causa de uma construção na ponta”, reclama a moradora Lucília Barbosa. Problema semelhante ao da área destinada ao Restaurante Unidade Vizinhança (RUV) da SQS 216 (foto).
Obra suspensa
O GDF mandou suspender a obra na área da RUV da 207 Sul depois de dois meses de protestos dos moradores contra a instalação de um novo comércio na área verde, onde vivem árvores de mais de 40 anos. Para a moradora Regina Kowalczuk, foi uma grande vitória. “A comunidade tem anseios. É uma satisfação grande ver que fomos vistos e ouvidos.” (colaborou Samantha Fukyoshi)
5 Comentários
Flavisman Caetano
15/06/2017 at 12:00Triste realidade da capital, um problema sem aparente solução. A população aumentou tanto que não se vislumbra qualquer alternativa para equalizar a relação sustentabilidade X demanda comercial. Uma verdadeira bola de neve, a população da capital quer o sossego de Lúcio Costa mas se cala diante das maravilhas do capitalismo.
marcia zarur
16/06/2017 at 19:55De fato é um grande desafio equilibrar tudo isso! Mas acreditamos que a mobilização dos moradores, desta vez, deu a vitória ao verde.
antonio eustaquio santos
15/06/2017 at 13:53Eu discordo e explico: os lotes previstos no planejamento urbano para comercio locais na asa sul devem ser construídos. A Área de comércio da asa sul é menor do que a da asa norte. O adensamento irregular e criminoso dos puxadinhos pode existir, mas a construção dos lotes legais não pode? Como? Onde estavam os moradores da quadras residências para combater as construções clandestinas, bandidas ,destes fascistas puxadinhos que se alastraram que nem praga e se expandiram por todo o DF, enquanto a Terracap guardava os outros lotes para especular? Estavam fazendo os puxadinhos para ser darem bem? Para a invasão irregular eo adensamento destes fedidos puxadinhos, deste bares que alugam 30m2 e ocupam 300m2 de área publica aberta e ou fechada, tem até Lei ! Lei para legalizar o ilegal. Lei que foi votada Sem consultar a população lindeira, a residencial. Manobra bandida de políticos demagogos que estão sempre de plantão na câmara e no buriti. Perder este imóveis RUVs é perder o que é legal para patrocinar a ilegalidade dos canalhas.. É perder dinheiro que poderia ser empregado nas infra estruturas das favelas das satélites.é perder emprego na construção civil e no comercio legal. A demanda existe não so para imóveis comercias quando para o transporte coletivo de qualidade que deixariam as quadras comercias com a paz que necessita. Mas ninguém que mora no Plano Piloto vai fazer manifestação para transporte coletivo. Vai? Acharam ruim as estações do metro, pois estariam levando os marginais das favelas com mais facilidade até ao plano piloto. Portanto Abaixo as ocupações irregulares e aos famigerados puxadinhos e liberem os edifícios previsto no plano e tenho certeza que a paz voltará aos comércios locais. Os puxadinhos na asa sul ocupam uma área superior ao do Conjunto Nacional, mas ninguém vê. Cegueira brasiliense?
marcia zarur
16/06/2017 at 19:50Nós do Olhar Brasília queremos promover uma reflexão responsável em relação a um assunto tão importante da cidade. A participação de vocês, leitores, é muito importante para nós e a satisfação é ainda maior por vermos o alto nível do debate, com argumentos sólidos de todas as partes.
Dito isso, precisamos ressaltar alguns pontos:
⁃ O Olhar Brasília não é favorável aos puxadinhos e a outras iniciativas que possam por em risco a qualidade de vida dos moradores.
⁃ Embora a construção dos RUVs seja legal, defendemos a reivindicação dos moradores e acreditamos que a preservação da área verde é uma vitória de toda a comunidade. O Olhar Brasília não é contra empreendimentos, que geram empregos e renda, mas somos favoráveis a uma solução que atenda as demandas de todos os envolvidos. Nos parece que a permuta deste terreno por outro seria a melhor solução.
⁃ O Olhar Brasília é um site da cidade que privilegia a discussão de temas do “nosso quintal” e pra isso contamos com a colaboração dos moradores. Podem nos enviar sugestões e opiniões para: contato@olharbrasilia.com
Sergio Porto
17/06/2017 at 16:17O projeto que apresentamos (Augusto Guimarães Filho, Maria Elisa Costa e Sergio Porto) para a modificação do traçado do Metrô na área urbana da cidade, a pedido da Secretaria de Planejamento do DF -1993), previu, entre outras coisas, a Travessia de Pedestres de Ligação Leste/Oeste do Eixo Residencial Sul l.Ele corresponderia aos acessos das Estações do Metrô, alternadamente às “tesourinhas” existentes. As referidas travessias seriam construídas integradas às estações do Metrô, mas autonomamente. Seriam construídas abaixo do nível do terreno, com cobertura vegetal e com ventilação natural direta. Seria uma Galeria larga coberta por pergolado de concreto. E a cada lado seriam construidas lojas moduladas (em complementação ao Comércio Local).O Projeto foi aprovado por Lucio Costa é perfeitamente integrado ao Plano Tombado. Nada seria feito acima do terreno existente. O Projeto foi detalhado de modo a que fosse possível, em alguns casos , lotes modulados unificados de modo a abrigar lojas maiores, não admissíveis no Comercio das Entre Quadras. O Projeto foi entregue á Dra Ivlise Longhi, então arquiteta da Secretaria de Planejamento do DF.Será fácil a quem queira obter a informação de onde se encontra. Ele poderá ser útil para que se evitam alterações descabidas nas áreas das UInidades de Vizinhança. Dados numéricos das áreas projetadas acompanham o trabalho e , em complementação desta informação, esclareço que o projeto estrutural foi concebido pelo Engenheiro que projetou as principais obras da Capital , Bruno Contarini.