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Olhar Brasília

Alan Marques

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Samanta Sallum

A cidade e elas

Tempo de leitura: 1min e 40s

Toda cidade tem a sua Lua, toda cidade tem as suas prostitutas  

Meu sentimento de incômodo sobre a forma como Brasília é retratada e resumida por pessoas de fora, que vêm de passagem, mal conhecem a cidade ou nunca pisaram aqui, não se esgotou no meu post anterior “Mexeu com Brasília, mexeu comigo”.  Agora,  gostaria de ir mais fundo à frase de Fernando Gabeira, que disse, anos atrás, quando era deputado federal e vivia na ponte aérea Rio/BSB: “Se você sair à noite em Brasília, terá de ir a lugares onde só têm lobista, puta e deputado”.

Toda cidade tem a sua Lua, toda cidade tem as suas prostitutas. E estranho seria se Brasília não tivesse.  Aí, sim, seria motivo de crítica, algo muito estranho haveria. Elas fazem parte do estrato social de qualquer cidade. Das que ficam em pontos na W3 às garotas de programa nas cadeiras universitárias, elas não podem servir de pedra para se arranhar a imagem da capital. Elas existem em todos os lugares – angustiantes e artificiais aqueles que não as têm.

Brasília não se resume a prostitutas nem a controversas “Marcelas Temer, recatadas e do lar”. Se Fernando Gabeira tivesse dito que em Brasília só tem advogadas, dondocas,  idosas,  – enfim,  não importa que segmento de mulheres ele escolhesse para descrever os ambientes da capital – , meu incômodo seria o mesmo.

Não se pode resumir Brasília e, acredito eu, cidade alguma, a estereótipos de sua gente. Isso é muito caolho. Não importa se são prostitutas, Marcelas, não nos classifiquem, não nos rotulem.”

Se não tem prostituta, então não é cidade. Elas representam uma parte da metrópole que está muito viva. De forma alguma, quero romantizar a prostituição ou fechar os olhos para crimes de abuso e exploração sexual.  Não estou fazendo aqui apologia à prostituição. Apenas não estou sendo hipócrita.

Existe, existe sim, e não é motivo de vergonha para uma cidade. Vergonha são os crimes que cometem contra elas, vergonha é o crime cometido por políticos que vêm de todos os estados.”

Não concordo é com a marginalização desse segmento e acho importante termos políticas públicas de inclusão de grupos vulneráveis da sociedade como esse e outros.  Então Brasília é, sim, das prostitutas,  de Marcelas do lar, médicas, advogadas, jornalistas, copeiras, motoristas de táxis. Brasília é cidade de verdade, tem vida de verdade, sim, senhor!   

PS – O episódio com Fernando Gabeira repercutiu mal na época e ele se retratou depois. Lembrei-me desse caso no meu post anterior “Mexeu com Brasília, mexeu comigo!”, elencando situações em que a cidade é alvo de preconceitos, como ocorreu na nota, na semana passada, do colunista Ancelmo Gois, de O Globo. Ele questionou o que um turista poderia fazer aqui. Nós, do Olhar Brasília, lançamos a campanha #mexeucombrasíliamexeucomigo, contra a forma como a nossa capital é retratada negativamente, na maior parte das vezes, sendo limitada ao cenário do Poder e aos desmandos de políticos.  

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Um comentário

  • Reply
    José Kléber Leite de Castro Júnior
    21/06/2017 at 18:20

    Ainda bem que por aqui há as putas! O que pensariam os nossos visitantes, depois de passarem alguns dias com uma sensação de “je ne sais quoi”, atinarem com o hipotético fato de que, além de não termos esquinas, não termos também as mui dignas representantes do ofício mais antigo do mundo? Com certeza, especulariam: “que maldade fizeram com elas, para fazer com que desaparecessem?”. Não, não merecemos mais essa injustiça com mossa cidade. Como qualquer metrópole saudável, aqui temos, sim, as nossas putas.

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