Hoje é: quinta, 12 de dezembro de 2024
Olhar Brasília
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Marcia Zarur

Cadê o poema que estava aqui?

Uma das joias da nossa cidade está encravada na W3 Sul. Um prediozinho branco, baixinho e despretensioso que guarda muitas histórias da minha geração. A Biblioteca Demonstrativa reflete muito da decadência da avenida mais charmosa de Brasília.

O prédio do antigo INL (Instituto Nacional do Livro) foi interditado, em maio de 2014, pela Defesa Civil, por risco de desabamento da marquise e falta de segurança em caso de incêndio. Já são três anos de promessas de reabertura e expectativas frustradas. O Ministério da Cultura, responsável pela obra, instalou chamativos cartazes na fachada anunciando: vem aí a nova Demonstrativa. Mas até agora nada!

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A gente foi se acostumando a ver as portas fechadas e os vidros lacrados, cobertos com lona preta, mas as laterais ainda nos contagiavam de encanto com os poemas em mosaicos coloridos. Era possível se deliciar com a Suzana de Nicolas Behr ou viajar com a estrela acesa na janela dos sonhos de Cassiano Nunes.

Mais do que poemas, são declarações de amor à cidade. Marcas nas paredes que nos fazem lembrar da poesia e, principalmente, dos poetas que traduzem Brasília em versos.

Nicolas Behr brinca com as siglas, faz trocadilhos e instiga reflexões sobre quem somos e como queremos continuar construindo essa cidade inventada. Fica aos pés, ou aos pilotis, de Brasília pra revelar facetas dessa cidade vanguarda.

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Naquela noite
Suzana estava
mais W3
do que nunca
toda eixosa
cheia de L2
Suzana,vai ser
superquadra
assim lá na
minha cama”

Nicolas Behr

Cassiano Nunes viveu Brasília e viveu a literatura como poucos. O senhor solitário, que morava numa casa geminada da W3, escolheu uma casa feita de livros, sem televisão, onde mergulhava em palavras e devaneios. O poeta morre, mas a obra estampada ali não deixa que se esqueçam dele.

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Como posso
queixar-me de solidão
Se possuo a
noite e a sua canção?
A noite é tão vasta
que me perco nela
Amor!
Acende a estrela da tua janela.”

Cassiano Nunes

 

O artista Henrique Gougon e a turma do ‘Loucos de Pedra’ e ‘Ciranda do Mosaico’ coloriram a cidade e inseriram versos, desses e de outros importantes poetas, onde ninguém imaginava… Calçadas, pontos de ônibus, paredes! E agora o brasiliense se ressente com a falta que a poesia faz, o acalento nos minutos de sinal fechado e o respiro no estresse do dia a dia. Viva a nossa Biblioteca Demonstrativa! E saibam que queremos de volta os poemas que deveriam estar ali.

O Ministério da Cultura diz que retirou os mosaicos para restaurar a parte externa da Biblioteca e que vai devolvê-los quando a obra estiver pronta. O ministério espera reabrir o espaço até o fim deste ano. Tomara! A boa notícia é que parte do acervo, cerca de 3.000 obras, vai estar disponível para o público numa sala do prédio do Touring, na plataforma superior da Rodoviária, já no mês que vem. Vamos continuar de olho!

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