Hoje é: segunda, 13 de janeiro de 2025
Olhar Brasília

Acervo pessoal

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Espaço convidado

A Brasília que levo no coração

Convidada: Fabiana Santos é ex-repórter do DFTV, atualmente mora em Washington-DC, é blogueira e consultora de mídias sociais no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Eu vivi toda a minha infância e começo de adolescência no Bloco C da 308 Sul. A quadra modelo de Brasília tinha apenas 10 anos quando eu nasci e foi a única construída rigorosamente como Lucio Costa queria. Mas foi preciso eu me tornar adulta pra entender o tanto que isso significa. Eu vivi cercada pelos jardins do Burle Marx enquanto andava de bicicleta pelos blocos; brincava de pique pelos azulejos de Athos Bulcão da Igrejinha e observava pelo janelão do apartamento o nascer do sol no espetacular céu candango, já que, propositalmente, os quartos e a sala davam para o nascente em todos os prédios. Não foi pouca coisa.

Eu ia a pé, com a minha mãe e minha irmã, cortar o cabelo na Bibabô, da família Staikos, logo ali na W3. Ia comprar colcha de piquê (porque um dia Brasília já fez muuuuito frio) com a minha avó, também pertinho, na Fofi. Subia todos os sábados a comercial da 107 Sul com o meu pai, depois da “pelada” dele no Cota Mil, e antes de chegar em casa parávamos o carro em frente à pizza Dom Bosco. Sempre para pedir uma dupla com suco de caju. E o macaquito do Truc’s do outro lado da rua, na 108, também era lei nos fins de semana. Ainda frequentei aulas de ballet na Norma Lilia, tudo ali próximo.

Ou seja, pra encurtar a conversa das minhas inúmeras memórias: eu soube curtir muito bem a “minha infância na 308” numa Brasília longe da cena política – a única que ela representa pra muita gente. E depois que eu cresci, por força do meu trabalho, como repórter durante muitos anos no DFTV, consegui ainda continuar vivenciando a Brasília dos moradores, de suas demandas e do seu cotidiano. Jamais vou me esquecer de ter conseguido “emplacar” no Jornal Hoje uma reportagem sobre o carnaval de Brasília, com camarotes cheios de foliões das embaixadas. Foi, digamos, algo “memorável”, já que o interesse do noticiário nacional nunca passava (ou nunca passou?) da Esplanada.

Por tudo isso que estou contando é que eu vibrei com a intenção deste site, tendo à frente duas queridas companheiras do jornalismo brasiliense: Samanta e Marcia (sendo Marcinha, minha amiga desde a UnB!). Elas querem mostrar o que jamais precisou ser planejado – tanta gente amando Brasília de várias formas. Certeza de que não vai faltar pauta.

Já faz 6 anos que venho à cidade, todos os anos, como visita. Fui morar em outra capital federal, a americana, pela qual aprendi a ter muita admiração. Pra viver em paz, coloquei na cabeça que a casa da gente é a gente quem faz, não importa onde (talvez um bom conselho para os que vêm morar em Brasília já torcendo o nariz).

É engraçado ver algumas semelhanças entre as duas capitais quando vou a um restaurante, por exemplo. Nas duas, eu consigo observar: quem está nela todo dia e sabe bem a vibe que ela possui e quem está de passagem, apressado e sisudo, achando que o local serve apenas pra ser meio e não para fim. Ainda que eu tenha aqui em D.C. uma pontinha de inveja de ela receber milhões de turistas, ávidos pelos monumentos e por sua história, reverenciando cada metro quadrado. Sonho um dia com o nosso DF também lotado de visitantes assim.

Alguém já disse que estar longe nos faz enxergar com melhores olhos o que deixamos pra trás. E comigo não é diferente em relação a Brasília. Tenho uma gratidão gigante pelo que ela fez por mim. Não planejei deixá-la, mas ela cuidou para que eu estivesse preparada quando foi preciso dizer tchau. A quarentona que sou hoje deve muito à quase sexagenária que me formou em termos pessoais e profissionais. Quero muito ficar velhinha e poder contar para os meus netos: “Quando eu era pequena lá em Brasília…” Certeza de que não vai faltar pauta.

Vale olhar o blog: http://www.tudosobreminhamae.com que conta com textos de Fabiana e fala sobre maternidade, morar fora e motivos pra ser feliz.

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Um comentário

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    Alan Marques
    07/07/2017 at 18:02

    Que história linda!

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