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Saúde

Dá para ser feliz

Um episódio corriqueiro na infância pode explicar fobias que os adultos sentem. Uma nova técnica de terapia pode ajudar muito. Dessensibilização; Reprocessamento através de Movimentos Oculares.

Por Daina Diniz

Todos nós vivenciamos traumas durante a nossa vida, que podem ser pequenos ou grandes. A explicação para muitas fobias está na forma como nossas memórias foram armazenadas no cérebro. Se não foram bem processadas, um fato que ocorreu há muito tempo pode nos levar a comportamentos disfuncionais hoje e, na maioria das vezes, não entendemos por que agimos de determinada maneira. Às vezes, fatos aparentemente corriqueiros podem se transformar em traumas. Tive um cliente que tinha fobia de altura. Durante a terapia, lembrou-se de um acontecimento de infância. Quando tinha cinco anos, estava brincando com um primo em um lugar alto. O primo o assustou e ele caiu de uma ribanceira, machucou-se, mas não quebrou nada, entretanto ficou o trauma.

Ou seja, no seu caso, a memória do acidente não foi processada adequadamente pelo cérebro, o que levou a ter fobia de altura posteriormente, sem que ele soubesse a causa. Sempre que estava em um lugar alto se sentia “sem chão”. “É como se minhas pernas faltassem”, dizia ele para mim. De fato, no acidente, ficou sem chão, as pernas faltaram e ele caiu. Quando temos um trauma, guardamos também na mente, sensações, cheiros, sentimentos e crenças negativas. Por isso, trabalhamos na terapia a dessensibilização de todos estes aspectos. No caso desse cliente, após o Reprocessamento, não teve mais fobia de altura.

É claro que nenhuma psicoterapia vai nos levar para um estado de permanente felicidade, o Nirvana, isso é utopia. A vida é cheia de altos e baixos, de alegrias e tristezas, de chegadas e de partidas. Mas podemos, sim, elaborar melhor e mais rápido nossas perdas, traumas e lembrar os momentos difíceis que passamos sem  sofrimento

Existem diversas abordagens psicológicas. Eu mesma já fiz várias formações. Mas, atualmente, uma tem me mostrado bastante efetiva para trabalhar com traumas, fobias, pânico, depressão, autoestima etc. Chama-se EMDR, sigla para Eye Moviment Desensitization na Reprocessing  – Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares.

Não trabalho mais com crianças, mas certa vez, a pedido da família, fiz algumas poucas sessões com uma criança que tinha fobia de cachorro e  estava passando férias em Brasília. Quando voltou para sua cidade, recebi várias fotos dela com um cachorro enorme. Os resultados permanecem até  hoje, não tem mais fobia de cachorros.

Tenho trabalhado com pessoas que sofreram bullying, quando crianças ou adolescentes, e desenvolveram grande medo de relacionamentos; outras que estão em relacionamentos abusivos e que não conseguem sair deles; outras que não conseguem falar em público por medo da crítica; outras com dificuldades de elaborar perdas; e muitos outros casos, mas temos conseguido grandes melhoras em todos os aspectos.

Cicatrizes

É importante lembrar que nada começou  agora, isso são apenas sintomas e não as causas. Temos que buscar lá atrás a origem do problema e então trabalhar essas lembranças disfuncionais para que possamos agir de forma mais adequada. É claro que nenhuma psicoterapia vai nos levar para um estado de permanente felicidade, o Nirvana, isso é utopia. A vida é cheia de altos e baixos, de alegrias e tristezas, de chegadas e de partidas. Mas podemos, sim, elaborar melhor e mais rápido nossas perdas, traumas e lembrar os momentos difíceis que passamos sem  sofrimento. Eles serão apenas cicatrizes e não mais feridas. Feridas doem, cicatrizes são marcas, não doem mais. Então, dá, sim, para ser feliz. E Freud tinha razão: tudo começa na infância.

Existem inúmeras causas que nos levam a procurar psicoterapia. Às vezes, não conseguimos resolver nossos problemas sozinhos e procuramos ajuda. Freud, no fim do século 19, começou a falar do inconsciente. De lá  para cá, houve grande avanço na psicologia, na área da neuropsicologia, e hoje podemos entender melhor não só as causas dos nossos sofrimentos, mas também tratá-los de uma maneira mais eficaz.

Daina Diniz Machado é psicoterapeuta há 30 anos, graduada em psicologia pela UnB, com especialização em Psicologia Clínica pela Univesidad Completense de Madrid, na Espanha, e formação em Psicodrama na SOBRAP-Brasília, formação em Análise Junguiana pelo Instituto Aion-Brasília e formação em EMDR, pelo EMDR Institute, INC – Brasil. Contato pelo: dainadm@globo.com

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5 Comentários

  • Reply
    Eloá Braga Pierre
    18/07/2017 at 19:13

    Parabéns pelo maravilhoso trabalho, Dra. Daina.

  • Reply
    Susana Pereira
    19/07/2017 at 14:57

    Dra. Daina, excelente matéria sobre a importância
    de uma saudável infância na vida do ser humano. Outrossim através desse olhar , constato que grande parte da desordem social que ora vivemos, tem sua origem na velocidade que adquirimos a informação sem inteligência emocional para o necessário ajuste.
    Congratulo-me com seu visível avanço profissional.

    • Reply
      Susana Pereira
      21/07/2017 at 07:24

      Dra. Daina, congratulações pelo artigo que revela a importância de uma infância saudável.
      Acredito que a desordem social, que ora vivemos, tem origem no excesso de informação.
      O homem não compatibilizou o processo, com a necessária inteligência emocional, que se aprende a partir da própria concepção.
      Constatado pela maioria dos especialistas do mundo.

    • Reply
      Susana Pereira
      21/07/2017 at 07:31

      Dra . Daina meus parabéns pela matéria, que enfatiza a importância de uma infância saudável.
      O homem precisa refletir sobre a origem de suas mazelas, buscar a cura, promovendo para si e ao próximo um mundo melhor

    • Reply
      Susana Pereira
      04/08/2017 at 12:26

      Parabenizo, Dra. Daina Diniz , pelo comentário sobre o inestimável valor de uma infância saudável.
      Ainda que fatos pontuais ou recorrentes sejam imprevisiveis na vida do homem, devemos ser atentos aos sinais de desordem comportamental no cotidiano de nossas vidas.
      Por mais difícil que seja, refletir sobre nossas limitações, devemos superar o pânico e buscar a ajuda de um profissional

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