A garotada das bandas gritou e pela primeira vez nós, de Brasília, fomos ouvidos: transcendemos a capital da política e do poder – a partir dali, nunca mais deixaríamos de ser a capital do rock.
“O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens…”
Este mês, comemoramos o Dia Mundial do Rock e já não somos mais tão jovens assim. Mas o que a minha geração construiu em Brasília ninguém apaga. Não tem como falar da história do rock no país sem prestar as devidas homenagens ao pessoal da Colina. Se o brasiliense tivesse que escolher uma trilha sonora para a cidade, provavelmente ela seria o som dessas bandas dos anos 80. Paralamas, Capital, Plebe e Legião…
Legião Urbana toca de um jeito que é difícil descrever. Meus filhos, da novíssima geração Brasília e também músicos como o DNA da cidade manda, reclamam das poucas variações nos acordes da banda. Mas explico a eles que o que entra na alma são as letras do inesquecível Renato Russo.
A imagem da cidade sem povo, sem identidade, sem cara e sem calor humano se desmancha nas histórias de amor no Parque da Cidade e nas gírias próprias que só brasiliense da gema entendia. A gente já podia bater no peito e dizer: somos de Brasília, o celeiro das bandas que todo mundo ouve. Foi a primeira vez que tivemos algo mais concreto que os monumentos de Niemeyer pra sentir orgulho.
O líder da Legião, como atesta o jornalista Carlos Marcelo no livro Renato Russo, o filho da revolução, foi o cronista de uma geração e descreveu com poesia, mas também com realismo, o que era crescer embaixo dos blocos, entre os pilotis.
Começávamos a descobrir a nossa própria cara, numa cidade adolescente como nós. O livro de Carlos Marcelo foi uma viagem pelas minhas memórias, pois eu, assim como outras 50 mil pessoas, estava naquele show desastroso de 88 no velho Mané Garrincha.
Sim, a jovem Brasília já tem história pra contar, como o DFTV mostrou no aniversário de 50 anos da cidade. Acompanhe no vídeo abaixo os depoimentos de integrantes das bandas e dos jornalistas Carlos Marcelo e Marcos Pinheiro, dois especialistas no nosso rock:
E pra quem ficou com gostinho de quero mais, segue o episódio ‘Rock por toda parte’, do Distrito Cultural, exibido pela TV Globo no fim do ano passado.
https://globoplay.globo.com/v/5519881/programa/
A boa música está na essência da cidade. Que venham novas bandas e novos sons! Pra mim, a bela Brasília nunca será a do sertanejo, mas a do bom rock’n’roll.
5 Comentários
Marcela
20/07/2017 at 11:58Amei esse texto! Me emocionei!
Marcia Zarur
23/07/2017 at 20:12É o retrato de uma geração. Geração coca-cola! 😉 Obrigada pelo comentário!
Nely
20/07/2017 at 15:54Adoro Rock e não pode falar de Rock brasileiro sem lembrar as grandes bandas brasilienses que fizeram e fazem historia
Marcia Zarur
23/07/2017 at 20:10É verdade, neste assunto Brasília também deixou a sua marca. Muito obrigada pelo comentário.
Sandra Beatriz
22/07/2017 at 17:46#mexeucombrasiliamexeucomigo