Por Marcia Zarur
“A Reforma Possível do Olhar” – o novo projeto do fotógrafo Luis Humberto – não se classificou para ter recursos do Fundo de Apoio à Cultura, o FAC. Teve a pontuação máxima, nota 5, em quase todos os itens. Mas ficou com 4 em qualidade do projeto e, acredite, em relevância da obra!
Luis Humberto estava empolgado com o convite do diretor do Museu da República, Wagner Barja, para montar uma exposição no início do ano que vem. A mostra seria a culminância desse projeto que começou com a garra de “quem não pode se entregar”, como define o próprio fotógrafo.
Como está com os movimentos limitados, e passa parte do tempo na cadeira de rodas, resolveu experimentar a fotografia por este novo ângulo, a altura dos olhos. E, mais uma vez, subverteu o modelo tradicional de registrar o mundo.
O fotojornalismo não foi mais o mesmo depois que ele transcendeu a maneira quadrada e antiga de registrar autoridades.
Com seu olhar, mostrou que as cenas do cotidiano ganhavam uma nova expressão, dependendo do ângulo, da luz e das sombras.
Ele humanizou o concreto dos monumentos de Niemeyer e inspirou gerações de estudantes e de fotógrafos amadores e profissionais.
Todas essas fotos estão no livro Do lado de fora da minha janela Do lado de dentro da minha porta.
O próprio secretário de Cultura, Guilherme Reis, classificou Luis Humberto como um patrimônio da cidade. Mas explicou que foram analisados mais de 1.400 projetos, num processo que procurou dar mais transparência e eficiência ao FAC. Nas redes sociais, o secretário prometeu analisar com mais rigor o que houve, mas adiantou que, com mais de 430 selecionados, pode ter havido um ou outro ‘equívoco’.
Justamente a questão da transparência é questionada pelo produtor de “A Reforma Possível do Olhar”, Aloísio César, que afirma que quem julga o mérito cultural são pareceristas recrutados on-line no Brasil inteiro e que muitas vezes não têm conhecimento da cultura local.
Ele pede que as reuniões de julgamento de recurso do Conselho de Cultura sejam abertas, com transparência e direito a ampla defesa, e reclama que não há ninguém no Conselho da área de artes visuais.
Luis Humberto se limitou a dizer que “quem julgou não entende minimamente de fotografia”. Ele tem toda razão, não entende mesmo e não enxerga. Ficamos nós atônitos, esperando que em algum momento haja o mínimo de bom senso nesse tipo de decisão.
Nota da Secretaria de Cultura:
A Secretaria de Cultura esclarece que não houve erro na análise dos recursos dos projetos do FAC e tampouco foi negado recurso ao projeto em questão por pouca relevância da obra, uma vez que o projeto foi o quarto mais bem pontuado na sua categoria, recebendo no quesito relevância da obra “muito bom”.
O Fundo de Apoio à Cultura (FAC) avançou muito ao adotar os mecanismos de julgamento por meio de pareceristas externos, que é uma conquista histórica do setor cultural. No entanto, um julgamento mais objetivo e técnico, que também visa atender a uma demanda dos órgãos de controle e transparência, dentro de toda a subjetividade do campo da arte, pode deixar proponentes se sentindo injustiçados. A secretaria reforça seu compromisso em deixar ainda mais qualificada a seleção do FAC. E faz isso neste momento ao realizar uma série de diálogos culturais com o setor cultural para a construção dos próximos editais do fundo.
Vale olhar de novo o Distrito Cultural sobre fotografia e a entrevista com Luis Humberto: https://globoplay.globo.com/v/5427840/programa/
2 Comentários
Ieda de Abreu
22/07/2017 at 10:21Estamos assim, podados em dar o devido valor ao que(quem) merece. Luiz Humberto foi meu professor no Jornal de Brasília que fundou com outros igualmente valorosos dos anos 70. A ele devo o sentimento de ver a cidade com olhar de ampla beleza, realismo e poesia. Suas pautas impulsionavam repórteres como eu, que saíamos para cobrir meninos trabalhando na rua e voltávamos com ensaios e sentimentos revirados. O fato de impedirem Luiz Humberto não diminui, ao contrário, só amplia seu imenso talento de olhar.
Marcia Zarur
23/07/2017 at 20:10Ele realmente é um mestre! Muito obrigada pelo comentário.