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Olhar Brasília
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Samanta Sallum

“Na Praia” de botas?

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A capital não tem praia, ponto-final. Ela é linda sem praia, e criar uma artificial me parece tão forçação de barra!

Qual é a praia de Brasília? O céu, o Lago Paranoá, a Água Mineral, os parques ecológicos, enfim, teríamos várias respostas. Mas o fato é: a capital não tem praia, ponto-final. Ela é linda sem praia, e criar uma artificial me parece tão forçação de barra! Um ambiente cheio de areia e barraquinhas vendendo cervejas nem de longe é uma praia.

O evento Na Praia, à beira do Lago no Setor de Clubes Norte, que está bombando, pode valer como opção de ponto de encontro e por sua programação de shows ao ar livre. Mas como tentativa de reproduzir um cenário praiano, em pleno julho, no Cerrado beira ao surrealismo. Pessoas de botas e casacões caminhando sobre uma areia branca na tal praia da capital, no frio, me causa, no mínimo, um certo estranhamento. Deveríamos estar de cangas, bermudas e chinelos. Mas o clima não ajuda, ok. Sim, tem dia que a galera tentou vencer o frio e apostou no look praiano, mas, mesmo assim, não tem vibe de praia.

Essas cenas do Na Praia me fazem refletir novamente sobre por que a capital se perde na sua identidade. Acho que, pelo menos, para a época do ano, a pista de gelo no Ice Park, do Pontão, combina mais.

Para que pagar entrada, pagar ainda mais para consumir coisas por lá, e ficar confinada num trecho cercado da orla do Lago com um monte de areia? Se tiver um show rolando, até entendo. Mas podemos desfrutar do Lago de graça e pagando cerveja mais barata. Por que uma praia artificial é melhor e mais atrativa? Porque a galera vai. E por que a galera vai?

Brasília oferece opções de lazer ao ar livre, temos nossos parques para fazer gostosos piqueniques. Paris e Londres não têm praia e as pessoas não são menos encantadas por essas cidades por isso. Em Paris, o legal é tomar um vinho ou ler um livro às margens do Rio Sena. Em Londres, no verão, o frisson é tomar sol no Hyde Park, como em Nova York é no Central Park.

Por favor, não me entendam mal. Não estou fazendo campanha contra o Na Praia, apesar de haver outras polêmicas sobre o evento que devem, sim, ser esclarecidas, como a ocupação de área pública, a reclamação dos moradores do Lago Sul e do Lago Norte com o barulho durante à noite, o aparato destacado da Polícia Civil para o evento, que é privado e que , por isso , já deve contar com segurança particular, patrocínios do GDF…

Mas aqui estou refletindo sobre como desfrutamos nossos espaços e que prefiro curtir algo que tenha mais a cara da nossa cidade. Uma cidade não precisa de praia para ser agradável. Eu amo praia, fui criada nas areias cariocas. Mas não fico de mi-mi-mi, lamentando o que Brasília não tem. Eu viajo e mato minha saudade do mar. Aprendi a desfrutar daquilo que a cidade tem para me dar da forma mais original.

PS – Escrevo hoje sobre o Na Praia diretamente de uma praia de verdade, no Ceará (foto de Viviane Spiegel ).  O que só reforçou minha sensação de que cada lugar tem seu atrativo e não tem como um reproduzir o do outro. Cada um tem a sua delícia.

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Um comentário

  • Reply
    Robson Weider
    14/08/2017 at 21:41

    Bela visão sobre a “praia” que estão tentando nos empurrar. A verdadeira praia é um espaço público e democrático, onde as pessoas se encontram e se divertem sem ter que pagar por isso. O que estão promovendo aqui é justamente o contrário. Legal ter shows de artistas renomados, mas que tal explorar a concha acústica ou a praça das fontes, no parque da cidade? Esses locais são a cara de Brasília. Na Praia? Não… prefiro visitar uma de verdade nas férias!

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