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Olhar Brasília
esfinge
Samanta Sallum

Decifra-me ou te devoro – O enigma da cidade

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Com Brasília não se brinca. Não a menospreze. Não ache que a domina, que a tem a seus pés. Tem aqueles que se acham donos dela, querem se apropriar e mandar em tudo. Aqui não tem dono, não! Brasília é dos brasilienses!

Ela pode ser bela e traiçoeira. Uma tentação, uma provação. O que ela representa? Quem é ela, quem é ela? Um labirinto urbano em que muitos podem se perder de forma fatal. Cheia de castelos com corredores impregnados de tramas perversas; de templos suntuosos que abrigam no subterrâneo exércitos de ratos. Conspirar, tramar, jogar. Verbos que escrevem a capital. As curvas de seus monumentos tão inspirados de Oscar Niemeyer podem sugar para abismos. Vaidosa, fugaz, fútil. Mais incômodo do que a baixa umidade relativa do ar no período da seca é o alto índice de politicagem no ar  o ano inteiro.

Brasília, sim, é uma cidade enigmática. Se você não souber lidar com ela, decifrá-la, ela te devora. Já vi muitos serem triturados por essa majestosa esfinge. Não significa que a cidade seja má ou perversa. Pelo contrário, aqui, no Olhar Brasília, tentamos dar pistas para desvendar essa cidade pronta para nos abraçar, acarinhar, acolher.

A cidade é mais vítima do que vilã. Neste quadrado de terra sob um pedaço de céu abençoado, os homens e seus personagens tentam profaná-la. Eles a saqueiam e a abandonam. Mas ela sabe punir os que a violentam. Quem a desrespeita fica amaldiçoado.”

Desrespeitar a cidade é desrespeitar o conceito de um Brasil mais igual, mais justo, com mais cidadania. Brasília foi erguida mirando um futuro melhor de país.

Quem vem para amá-la é amado. Quem a vive movido por ambições ilimitadas pode se enforcar. A cidade tem farta oferta de convites de prosperidade. Qual aceitar e qual não? Aqui as oportunidades e armadilhas se confundem, se camuflam. Com Brasília não se brinca. Não a menospreze. Não ache que a domina, que a tem a seus pés. Tem aqueles que se acham dono dela, querem se apropriar e mandar em tudo. Mas ela vem se rebelando. Aqui não tem dono, não! Brasília é dos brasilienses!

O antigo mito grego conta que a esfinge da cidade de Tebas desafiava os viajantes com o enigma: ‘Qual o animal que de manhã tem quatro patas, ao entardecer tem duas e ao anoitecer tem três patas?’ Édipo acertou a resposta: ‘O homem’. E virou rei de Tebas, mas era o início de uma tragédia. Ele se casaria com a própria mãe. Não podemos ser aniquilados pela ignorância de não conhecermos a nós mesmos e a nossa cidade.

Brasília é a Rodoviária do Plano Piloto, o ponto de convergência de toda a nossa gente do Distrito Federal. A esfinge Brasília está pronta para engolir a parte da cidade que mais se acha dona dela e do Brasil. Pode nem fazer tanto barulho, mas ela vem se mostrando muito maior. Lamento a visão caolha da imprensa nacional que a joga para o resto do país como um farol do que há de pior no Brasil.

PS – “Me larga, não enche. Você não entende nada, me encara, de frente. É que você nunca quis ver. Não vai querer, nem vai ver. Meu lado, meu jeito, o que herdei de minha gente, eu nunca posso perder. Me deixa viver, me deixa viver!” Um pouco de Não enche, de Caetano Veloso, para os que desprezam e desdenham nossa capital. “Quem te deu tanto axé?”

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Um comentário

  • Reply
    José Kléber Leite de Castro Júnior
    04/08/2017 at 11:38

    Brasília, hoje, a exemplo do que ocorre com Paris e Nova Iorque, é uma cidade muitíssimo bem amada, obrigado. Assim como já foi amada a cidade do Rio de Janeiro, sufocada pelos desmandos e pela incapacidade mórbida dos cariocas de escolherem quem os governa e quem os representa. Não que aqui os governantes tenham sido melhor sucedidos, mas é que ainda não tiveram tempo de destruir nossa cidade, como fizeram os das bandas de lá. O resultado é que, assim como toda a mulher sensual e poderosa desperta inveja, também Brasília desperta o falatório dos ressentidos, que lhe atribuem predicados que não possui, tentando fazer dela uma moça de má-fama. Deixa. Brasília está bem com suas curvas. Adorei tanto o texto, que hoje nem vou dormir em Brasília. Hoje eu vou dormir com Brasília.

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