Por Marcia Zarur
Toda cidade que se preza precisa de poesia! E é melhor ainda quando a própria cidade vira musa inspiradora do poeta. Essa é a história de Nicolas Behr com Brasília.
A cidade o instiga a escrever desde sempre e o primeiro livro completa agora 40 anos. Isso é da época do mimeógrafo, uma geringonça movida a manivela – espécie de avô do xerox, que fazia cópias e era muito usado em escolas.
Behr reproduziu os poemas num equipamento desse “emprestado” pelo colégio Setor Leste. Copiou as páginas, fez uma capa de cartolina e deu o título de Iogurte com Farinha. Essa é a primeira publicação do nosso poeta de Brasília, que, embora conteste esse título, é conhecido assim afetivamente pelos brasilienses. Nas quatro décadas, a produção tem sido incessante na poesia e na preservação do verde. Nicolas Behr planta árvores e palavras pela cidade afora.
Olhar Brasília: Brasilírica comemora os 40 anos da edição de Iogurte com Farinha. Qual a principal diferença entre aquela Brasília da geração criativa, quando o poeta distribuía os poemas mimeografados pelos cantos da cidade, e a Brasília de agora?
Nicolas Behr: O sonho não acabou. Claro, envelhecemos, amadurecemos, mas continamos sonhando, acreditando. E tentando. Insistindo. Que a transformação vem e fica pela arte. Diferenças? Naquele tempo não tinha tanta tecnologia nos unindo e separando. Usávamos mesmo o bom e velho telefone. Usávamos o orelhão. (Alguém aí ainda sabe o que é isso?). Na essência, continuamos os mesmos, sonhadores.
Olhar Brasília: Uma vez você disse que a poesia era a maneira de lidar com o amor que você sentia por Brasília e ao mesmo tempo com a inquietação que a cidade te provocava. Ainda há esse sentimento conflitante?
Nicolas Behr: Sim, há. E esse “sentimento conflitante” do qual você fala é o combustível. Sem conflito não há mudança, não há avanços. Pois que a poesia é a tentativa de resolução de um conflito. Um poema pode ser uma resposta, um achado, uma forma de buscar o equilíbrio. No dia que a cidade deixar de me provocar, a poesia morre.
Olhar Brasília: Qual é a Brasília dos seus sonhos?
Nicolas Behr: Ah, uma Brasília mais igualitária. Sem crianças nos semáforos e cruzamentos pedindo esmola. Uma Brasília mais solidária, onde as pessoas olhem para as outras e tentem ajudar. Uma Brasília onde exista mais gentileza, mais amor, mais tolerância. Que a utopia esteja sempre no nosso horizonte. Que acreditemos sempre, mesmo num mundo tão competitivo e tecnológico, na nossa humanidade. Contra a robotização das relações sociais. Que consigamos viver com nossos semelhantes de forma mais harmoniosa, respeitosa, esse deve ser nosso objetivo. E é assim que eu gostaria de ver a minha Brasília.
Vale olhar: na próxima quarta, 9/8, Nicolas Behr lança o livro Brasilírica, uma antologia de poemas sobre a cidade escritos entre 1977 e 2017.O lançamento vai ser no Beirute da 109 Sul, a partir das 17h.
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