Hoje é: domingo, 06 de outubro de 2024
Olhar Brasília

Zuleika de Souza

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Samanta Sallum

Vizinhos – chateação ou solução?

Quando a gente pensa em vizinhança, tende a associar a problemas, a ameaça ao nosso sossego. Lá vem chateação… Quantas vezes erguemos muros na relação com nossos vizinhos? A típica cena do elevador. Caras fechadas que mandam o recado: não fale comigo, não quero falar com você. Bom dia, boa tarde e boa noite já são mais que suficientes. Olhos para baixo ou enfiados na tela do celular. A relação com nossos vizinhos revela como estamos numa sociedade cada vez mais individualista, que teme o exercício do contato coletivo.

Cuido da minha vida, cuide da sua e não me perturbe. Vizinhos que não passam de um número de apartamento. Sequer sabemos seus nomes… Mas ter vizinhos pode nos propiciar uma experiência muita rica, um sentimento bom de que não estamos sozinhos. Um desconforto individual, quando compartilhado com a vizinhança, pode fazer, e muito, a diferença. Um poder que deveríamos praticar mais.

É bom saber que não estamos sozinhos nas reclamações e reivindicações sobre os problemas do nosso prédio, da nossa quadra, da nossa rua, da nossa cidade. E não basta, não, uma reunião de condomínio ou uma audiência pública para que se concretize isso. É preciso um papo, um café, um olho no olho. É preciso dar as mãos. 

Um bom exemplo disso foi o que ocorreu com a vizinhança da 207 Sul. Os moradores de pelo menos quatro quadras da região se uniram para salvar uma área verde que seria ocupada por um novo estabelecimento comercial. Um dos moradores engajados no movimento, Murilo Marques conta como tudo começou:

Eu, quando vi os tapumes cercando o bosque, fiquei muito chocado. Eu queria falar com alguém, dividir meu sentimento de indignação por perdermos aquela área verde. Eu não sabia se as pessoas sentiam da mesma forma, não sabia com quem falar”, lembra.  

Até que foi criado o movimento nas redes sociais “O verde é nosso”. A partir de uma ação virtual no mundo digital, se teve um resultado bem real e concreto. O movimento foi ganhando adesão. Muitos moradores sentiam a mesma indignação. Eles organizaram protestos na frente dos tapumes. Foram se conhecendo, foram se unindo e o resultado veio. Chamaram a atenção do governo do Distrito Federal. A vizinhança foi ouvida e o local será preservado. Um decreto do GDF desapropriou a área a definindo como de utilidade pública. Não vou entrar agora na questão técnica da desapropriação, que também tem suas polêmicas, e já foi tema de outro post aqui do site – “Uma reflexão sobre o futuro da cidade” – leia aqui: https://www.olharbrasilia.com/2017/07/10/uma-reflexao-sobre-o-futuro-da-cidade/. 

No sábado passado, para comemorar os 2 meses de Olhar Brasília, nós nos reunimos com pessoas engajadas nas questões da nossa capital numa banquinha de jornal, a famosa banquinha da Conceição, na 308 Sul. Uma tarde para trocar ideias, informações e preocupações sobre nossa cidade. E a vizinhança se chegou. Que lindo vivenciar aquilo que os criadores desta cidade imaginaram para nós!

Brasília é uma cidade concebida para a convivência, e não para o isolamento. O conceito urbanístico de Lucio Costa é de espaços livres. Não podemos imaginar um prédio de uma superquadra com cerca gradeada. Os pilotis não podem ser fechados e privatizados. Que consigamos absorver esse conceito urbanístico da cidade no nosso convívio, com os nossos vizinhos. E uma coisa alimenta e preserva a outra.

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