Uma amiga carioca, que estava morando aqui em Brasília, está de malas prontas para o Rio de Janeiro. Foram 2 anos de temporada no Cerrado. Mais uma brasileira a chegar com a promessa de prosperidade. Sair do “caos” do Rio, vir para a capital, com um emprego melhor. Trouxe os dois filhos. Mas… Não foi bem assim…
Ela foi assaltada logo nos primeiros dias ao atravessar, crente que estava numa cidade segura, por uma passagem subterrânea, às 10h da manhã, no início da Asa Norte. Nas “boas-vindas”, um prejuízo de cara. Ficou sem computador e sem celular.
É uma triste ironia sair do Rio de Janeiro 40 graus para cair na Brasília 40 graus – ser assaltada, enfrentar racionamento de água e não contar com um transporte mais acessível (ela tentava, tentava pegar ônibus como se estivesse no Rio e sofria).
Ela me desabafou que resistiu muito a voltar. Queria ficar na capital, mas o emprego por aqui não rolou mais. Perguntei a ela se a cidade tinha sido carinhosa, se levaria boas lembranças. Ela disse que não se arrependeu de ter vindo, que tentou muito permanecer, mas agora o coração e um novo emprego a chamavam para voltar ao Rio.
Que Brasília possa ser mais generosa com seus habitantes, visitantes e hóspedes. Segurança pública, crise de hídrica, transporte são problemas nossos reais. Minha amiga prometeu voltar. Iremos à Água Mineral, que ela gostou tanto de conhecer aqui. Sabe-se lá como estará… Eu já marquei uma praia com ela no Rio, em breve. E nossa amizade vai continuar na ponte Bsb-Rio 40 graus.”
Enquanto isso…
Brasília arde. Arde com o calor, com a seca, com as chamas dos incêndios no nosso Cerrado, com a falta de água, com as incertezas sobre o futuro urbanístico da cidade. E com os desmandos de uma classe política que deixa uma fumaça cinzenta a pairar sobre a cidade, numa nuvem de suspeição.
No mesmo dia em que os termômetros bateram o recorde de temperatura, registrando 37,3°C, placas de sinalização ontem foram adulteradas com frases de protesto contra o Congresso Nacional.
A semana começou quente e mais uma vez com os olhos do país voltados para a Esplanada. A placa do Museu Nacional também virou estandarte de protesto. Mas o nosso sofrimento candango aqui é outro. O significado deste calor na pele do brasiliense arde mais do que o sol no Deserto do Saara.
Ele nos lembra de problemas sérios que temos de resolver. Pedindo licença à Fernandinha Abreu, que descreve tão bem o “Rio 40 graus”, de onde vim, Brasília também tem seus dias de “purgatório da beleza e do caos”.
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