Quando começamos a elaborar o site, Samanta e eu decidimos que teríamos os nossos blogs aqui dentro. Seriam espaços absolutamente livres, inclusive pra publicar receitas, quando estivéssemos sem inspiração. Rsrsrs
Às vezes é difícil escrever livremente, ainda mais quando a infinidade de temas se oferece.
Tivemos essa tempestade avassaladora esta semana que deixou o brasiliense assustado. A natureza vai cobrando a conta pelo desrespeito. Ninguém constrói casas indiscriminadamente, derruba o cerrado, joga o lixo em qualquer lugar e não colhe frutos amargos disso tudo. Estamos vivendo uma crise hídrica sem precedentes, que nos obriga a repensar a cidade: os erros do passado e as medidas do presente para garantir o futuro.
Ainda temos tanta coisa pra falar… O abandono de partes vitais da cidade, como a querida W3. A mudança radical do perfil urbano, que vai concentrando cada vez mais a diversão nos shoppings e negligencia a memória e a história da cidade. Centro Cultural Renato Russo que nunca reabre, Biblioteca Demonstrativa interditada, Teatro Nacional fechado, Dulcina caindo aos pedaços!
Vemos agressões inexplicáveis à cidade, como as grades que nos privam da nossa Praça dos Três Poderes e pequenas ações individualistas que causam grandes estragos, como o fechamento dos pilotis. A cidade é nossa, e não podemos permitir que ela deixe de ser…
Hoje eu pensei também em falar desses crimes bárbaros, tão recentes, e tão perto de nós, dentro das escolas de Goiás. Difícil entender o que está acontecendo, e ao mesmo tempo absolutamente necessário retomar valores que estão cada vez mais fora de moda no Brasil: honestidade, empatia, tolerância, amor ao próximo e respeito em todas as suas nuances. São os pilares da civilidade, que começam dentro de casa, mas que estão se perdendo em um mundo caótico, onde a educação anda esquecida.
Pensei em falar tanta coisa, mas hoje estava mesmo com vontade de publicar uma receita no meu espaço. Engraçado! Logo eu, que não sei cozinhar…
Aí me lembrei de uma aula fantástica do saudoso Carlos Chagas, na UnB. Ele levou vários recortes de jornais com receitas e poemas nas página do Estadão. Na época tínhamos acabado de viver as primeiras eleições diretas depois de 20 anos de ditadura militar e Carlos Chagas precisava mostrar a resistência do jornalismo, que havia sido tão censurado.
No lugar das noticias proibidas: poesia, receitas, comentários propositalmente desconexos. O leitor precisava perceber que havia algo muito errado ali. Os censores ficavam no jornal acompanhando tudo e proibindo as publicações. Então a manchete que deveria ser “No Brasil, não há liberdade de imprensa” passava a ser “Já é hora de dar mais atenção às flores”.
E se realmente havia algo muito errado ali, foi por gente que não desistiu do Brasil que o quadro mudou e conquistamos o bem maior, que é a liberdade. Apesar de todas as mazelas dos dias de hoje, e da desesperança imensa na qual o país mergulhou, mais uma vez acho que não podemos desistir da nossa terra. E continuo acreditando que o trabalho de mudança começa pelo nosso quintal.
Que tal por em prática essa receita?!
12 Comentários
Kátia de Castro Talarico Nogueira
09/11/2017 at 08:48Adorei!!! Esse retrato não é mesmo o nosso Márcia … Brasília é muito mais que esse caos que vem virando vitrine sem dono e destroçada por políticas administrativas sem escrúpulos e, como você bem disse, “…pequenas ações individualistas que causam grandes estragos…”. Alem de vivermos privados de uma liberdade, por conta dessas ações administrativas e individualistas mal direcionadas; e é claro, a falta de educação de base que v se perdendo em meio a tantos “exemplos perdidos”. É lamentável?! Sim, mas concordo que a cidade é nossa e não podemos desistir de lutar por ela. Beijos.
Marcia Zarur
16/11/2017 at 19:29É assim que eu penso, Kátia. Realmente não podemos desistir da nosso cantinho, e precisamos fazer o que estiver ao nosso alcance para manter a qualidade de vida que ainda temos aqui. Beijos
DANIELA S SIQUEIRA
09/11/2017 at 10:53podemos até descansar mas desistir jamais!!!
Marcia Zarur
16/11/2017 at 19:28Isso mesmo! 🙂
Flavisman Caetano
09/11/2017 at 13:04Eis me aqui, há 21 anos contra-balanceando o centro da capital. Sou policial militar com muito orgulho e enfrento diariamente dilemas dentro uma mesma sociadade. Uns querem mais cultura, outros querem que silenciemos a cultura. Uns querem a liberdade de ir, vir e permanecer; outros querem que reprimamos quem insiste em permanecer em barracas nos verdejantes gramados da capital.
Uns tem ogerisa à farda, outros tem espasmos de alegria ao avistar a reluzente viatura.
Seguiremos mangueando uns e outros.
Seguiremos amados e odiados.
Seguiremos amando a capital de “todos” os Brasileiros.
Marcia Zarur
16/11/2017 at 19:28Verdade, antes de tudo precisamos mesmo amar a nossa cidade e cuidar bem dela!
LUIZ MARTINS DA SILVA
09/11/2017 at 16:08São milhares de receitas, mas, as principais são aquelas com que nós mesmo possamos nos comprometer.
Exemplo: separar o livro por categorias, mesmo quando que apareçam ceticismos do tipo: “Não adianta separar, ele é misturado de novo lá na frente”.
Outra, ensaboar a louça e depois lavá-la toda de uma vez (na seca, usar um balde do lado para reaproveitamento). Coisas simples são primeiros passos: deixar o feijão de molho economiza gás e tempo no dia seguinte. Cumprimentos de quem foi aluno e colega de Carlos Chagas. Aluno, ao tempo de Carlos Zarur e Márcia Zarur (pais, tios, parentes seus?).
Marcia Zarur
16/11/2017 at 19:26Isso mesmo! Se cada um fizer a sua parte, sem empurrar o problema para os outros, a cidade agradece.
Carlos Zarur é meu tio e o grande responsável pela minha escolha pelo jornalismo, como conto nesse texto: https://www.olharbrasilia.com/2017/06/01/o-po-de-pirlimpimpim/
Gilmar
10/11/2017 at 08:02Estamos perdendo o contato com a alma da cidade. A cidade tem uma alma, que é a essência dos melhores requisitos humanos que se traduzem em um ambiente harmônico no qual podemos conviver a partir do livre desenvolvimento das nossas potencialidades, equilibrados no mútuo respeito e cuja ordem é determinada pelo exemplo dado pela propria natureza, resultante do poder que a rege.
Marcia Zarur
16/11/2017 at 19:23Belas palavras! Precisamos resgatar a alma de Brasília!!
Fernando
12/11/2017 at 07:12Ótimo texto! Parece que são extremos hoje: da seca, ao dilúvio, da direita, à esquerda. Precisamos de uma porção de otimismo e tolerância à vontade para retomar a sanidade.
Marcia Zarur
16/11/2017 at 19:22Exatamente! Tolerância e otimismo têm sido artigos em falta nos dias de hoje…