Convidado: Daniel Mangabeira é brasiliense nascido em Itabuna, arquiteto formado pela UnB em 1999, sócio do BLOCO Arquitetos e um dos criadores do @brasiliamoderna
O Bloco G da 203 Sul nasceu polêmico. Desde os primeiros traços até a sua conclusão, esse edifício rompeu regras urbanísticas, questionou padrões arquitetônicos vigentes à época, foi o prédio com o maior número de trabalhos de Athos Bulcão e inovou não apenas na arquitetura, mas também na nomenclatura, sendo um dos primeiros a estampar na fachada um nome para o edifício além da tradicional letra dos blocos residenciais. O Bloco G também é conhecido como Edifício Genève, ou como alguns moradores gostam de dizer: “Moro no Bloco G de Genève”. Importante esclarecer que não é G de Genebra.
O arquiteto e pintor Cláudio Meireles Fontes não mediu esforços para projetar e inaugurar, em 1975, um edifício singular. Foi o primeiro a ter uma sacada (pequena varanda) em uma época em que esse elemento arquitetônico era proibido nos edifícios residenciais. Foi um dos primeiros com apartamentos dúplex na cidade.
Em seu pilotis, o único espaço construído é a levíssima guarita de vidro, que praticamente desaparece envolta pelo verde que circunda o prédio. Os demais espaços obrigatórios e necessários ao funcionamento do edifício foram dispostos no subsolo e nas grandes caixas circulares de escadas. Embora seja uma inteligente solução, a fluidez espacial do pilotis foi interrompida por jardins que cortam transversalmente o piso e também por pilares esculturais que priorizam o aspecto contemplativo em detrimento do seu uso. Apesar desses aspectos que a princípio podem denegrir um dos espaços de maior orgulho da capital, o pilotis, o Bloco G da SQS 203 tem relevância no contexto arquitetônico e artístico local.
Composto por 24 unidades domiciliares, todas foram contempladas com painéis exclusivos de Athos Bulcão, porém, infelizmente, três unidades reformadas retiraram seus painéis. A cobertura, item raro e polêmico nos edifícios do Plano Piloto, possui um pequeno anfiteatro e um painel de azulejos de Athos. As caixas de escada circulares são elementos inconfundíveis na arquitetura desse edifício e o fotogênico pilotis é item básico nas contas de Instagram de arquitetos e estudantes em Brasília.
A despeito das polêmicas e da fachada norte ser toda envidraçada, Cláudio Meireles Fontes projetou um prédio benquisto e muito bem preservado pelos moradores. A quase totalidade dos materiais originais da década de 1970 ainda está presente no edifício. O concreto aparente não é pintado, o mármore branco é bem mantido, o piso é original e o forro de alumínio do pilotis é o mesmo da inauguração. Um sinal de que bons projetos não precisam de reforma para se adequarem a modismos temporários. Boa arquitetura independe de material e de tempo.
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