Hoje é: domingo, 06 de outubro de 2024
Olhar Brasília

Fotos: Daniel Mangabeira

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Espaço convidado

Bloco G de Genève

Convidado: Daniel Mangabeira é brasiliense nascido em Itabuna, arquiteto formado pela UnB em 1999, sócio do BLOCO Arquitetos e um dos criadores do @brasiliamoderna

unnamed 2 4O Bloco G da 203 Sul nasceu polêmico. Desde os primeiros traços até a sua conclusão, esse edifício rompeu regras urbanísticas, questionou padrões arquitetônicos vigentes à época, foi o prédio com o maior número de trabalhos de Athos Bulcão e inovou não apenas na arquitetura, mas também na nomenclatura, sendo um dos primeiros a estampar na fachada um nome para o edifício além da tradicional letra dos blocos residenciais. O Bloco G também é conhecido como Edifício Genève, ou como alguns moradores gostam de dizer: “Moro no Bloco G de Genève”. Importante esclarecer que não é G de Genebra. 

O arquiteto e pintor Cláudio Meireles Fontes não mediu esforços para projetar e inaugurar, em 1975, um edifício singular. Foi o primeiro a ter uma sacada (pequena varanda) em uma época em que esse elemento arquitetônico era proibido nos edifícios residenciais. Foi um dos primeiros com apartamentos dúplex na cidade.

unnamed 18Em seu pilotis, o único espaço construído é a levíssima guarita de vidro, que praticamente desaparece envolta pelo verde que circunda o prédio. Os demais espaços obrigatórios e necessários ao funcionamento do edifício foram dispostos no subsolo e nas grandes caixas circulares de escadas. Embora seja uma inteligente solução, a fluidez espacial do pilotis foi interrompida por jardins que cortam transversalmente o piso e também por pilares esculturais que priorizam o aspecto contemplativo em detrimento do seu uso. Apesar desses aspectos que a princípio podem denegrir um dos espaços de maior orgulho da capital, o pilotis, o Bloco G da SQS 203 tem relevância no contexto arquitetônico e artístico local.

Composto por 24 unidades domiciliares, todas foram contempladas com painéis exclusivos de Athos Bulcão, porém, infelizmente, três unidades reformadas retiraram seus painéis. A cobertura, item raro e polêmico nos edifícios do Plano Piloto, possui um pequeno anfiteatro e um painel de azulejos de Athos. As caixas de escada circulares são elementos inconfundíveis na arquitetura desse edifício e o fotogênico pilotis é item básico nas contas de Instagram de arquitetos e estudantes em Brasília.

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A despeito das polêmicas e da fachada norte ser toda envidraçada, Cláudio Meireles Fontes projetou um prédio benquisto e muito bem preservado pelos moradores. A quase totalidade dos materiais originais da década de 1970 ainda está presente no edifício. O concreto aparente não é pintado, o mármore branco é bem mantido, o piso é original e o forro de alumínio do pilotis é o mesmo da inauguração. Um sinal de que bons projetos não precisam de reforma para se adequarem a modismos temporários. Boa arquitetura independe de material e de tempo.

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