Convidada: Leiliane Rebouças é moradora da Vila Planalto, integrante do Movimento Urbanistas por Brasília e uma grande admiradora da obra de Niemeyer.
No princípio, era o risco, o traçado do arquiteto Oscar Niemeyer. Depois, veio o Plano, do Lucio Costa. Talvez muitos brasileiros não saibam, mas, quando o presidente Juscelino Kubitschek decidiu que construiria a nova capital do Brasil, ele convidou Niemeyer para projetá-la. O arquiteto recusou o convite, porém sugeriu que fosse criado um concurso nacional para a escolha do Plano Piloto de Brasília. Durante o concurso, os concorrentes receberam uma informação importante: teriam que projetar uma cidade onde três coisas tivessem localização definida no terreno e já estavam em construção na futura capital federal: o Lago artificial, o Palace Hotel e o Palácio Residencial da Alvorada. Ou seja, antes mesmo de escolher como seria a cidade, Niemeyer já tinha desenhado duas obras importantes de Brasília.
Quem mora no Plano Piloto, como eu moro, está cercado de obras do Niemeyer por todos os lados. Ou seja, ele é quase onipresente na cidade, então ele é inesquecível. Quando o arquiteto ainda estava vivo, durante muitos anos, os Geeks de Brasília costumavam usar uma camiseta com o rosto de Oscar Niemeyer estampado com a seguinte frase: “Niemeyer is Highlander”, em referência ao filme estrelado por Sean Connery, em 1986, onde interpretava um poderoso guerreiro imortal. Era uma brincadeira com a longevidade de um homem que teve a sorte de viver por longos 104 anos lúcido e produtivo.
Infelizmente, Niemeyer não viveu eternamente como Highlander do filme, e nos deixou há cinco anos, em 5 de dezembro de 2012, mas nem por isso a frase estampada naquela camiseta deixa de fazer sentido, porque quando um homem realiza grandes feitos, como Niemeyer, cuja genialidade é indiscutível, ele automaticamente entra para o rol da imortalidade e será lembrado por todas as gerações futuras.
Niemeyer está presente em minha vida todos os dias quando ao sair na rua onde moro olho para o horizonte e vejo sua última obra projetada em vida: A Flor do Cerrado. A Torre Digital criada em homenagem a todas as flores do cerrado que foram destruídas na construção de Brasília e cujas cúpulas refletem o céu lembrando o formato de uma flor em especial, da espécie evolvulus , que só nasce no cerrado brasileiro e é conhecida popularmente como Flor do Céu, por ter a aparência delicada e a cor azul. Coincidentemente, o meu nome é derivado do nome havaiano Leilane, cujo significado é flor do céu. Então, essa obra do Oscar Niemeyer tem um significado especial pra mim.
Quando eu estudava na Universidade de Brasília, Niemeyer estava lá presente na obra do Minhocão, no prédio da FE (Faculdade de Educação), entre outros. Ele também estava presente onde eu trabalhei por anos: na sede do Congresso Nacional, sua obra predileta, e que por acaso o meu pai foi um dos operários que ajudou na construção (assim como na obra do Palácio do Planalto e do Teatro Nacional).
Genialidade
Eu não conheci o Oscar Niemeyer, mas tenho o grande privilégio de ser amiga do braço direito dele, o seu genro Carlos Magalhães da Silveira. E, portanto, Niemeyer se faz presente na minha vida também quando eventualmente encontro o Carlos Magalhães em nossa confraria e posso me deliciar com as histórias do homem que conhece os segredos do Niemeyer mais do que qualquer um! Magalhães foi o responsável técnico por uma das obras mais lindas de Oscar: a Catedral Metropolitana de Brasília.
Assim como Magalhães, eu acredito que a obra de Oscar Niemeyer pode ser dividida em: Antes de Joaquim Cardoso — o gênio dos cálculos que tornou possível a concretização dos desenhos do gênio das curvas — e depois de Joaquim Cardoso. E que a melhor fase foi a que Cardoso estava na equipe. Outra coisa que concordo com o braço direito de Niemeyer é quando ele repete uma célebre frase do seu amigo: a burrice é imbatível.
Viva a genialidade de Niemeyer!
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