A saúde é o calcanhar de aquiles da gestão pública. Uma área mais do que sensível, que lida com a vida das pessoas. Estar doente é o momento de maior vulnerabilidade, é experimentar a fragilidade extrema. Por isso, é imprescindível ter atendimento de qualidade, e humano.
Há tempos, a saúde pública do DF anda capenga. Perdemos a conta das vezes que falamos sobre falta de medicamentos, dos mais caros aos analgésicos, o desabastecimento de materiais básicos, como fio de sutura, esparadrapo e capotes… Há falta de leitos e um número insuficiente de profissionais, especialmente na clínica médica e na pediatria. Isso sem contar a estrutura precária dos hospitais, com equipamentos velhos, vazamentos e até infestação de insetos.
Boas notícias nessa área, infelizmente, são exceção. Já as queixas e os problemas preenchem uma lista interminável. Mas, nos últimos dias, tenho lido anúncios de mais dinheiro para a saúde do DF e de que o balanço dos últimos três anos é animador.
A Secretaria de Saúde incluiu nesse balanço positivo a implementação do modelo ‘Saúde na Família’, a recuperação e a construção de unidades básicas em diversas regiões e a reorganização nas urgências e no serviço do SAMU. Além disso, destacou a nomeação de mais 2 mil novos servidores e a criação do Instituto Hospital de Base, entre outras medidas de sucesso.
Conversei com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e auxiliares que trabalham no Hospital de Base, no HRAN e na Ceilândia. Muitos não demonstram a mesma empolgação da secretaria.
Comprometimento
Eu mesma já presenciei, nos últimos anos, profissionais fazendo “vaquinha” pra comprar remédio pra paciente. Funcionários do Hospital de Base organizando bazar pra arrecadar o mínimo pra pessoas pobres internadas. Fisioterapeutas levando esparadrapo de casa pra aliviar o desconforto dos pacientes.
Como em qualquer outra área, há bons e maus profissionais, mas na saúde a carga de responsabilidade e o estresse beiram as raias da loucura. E a grande maioria das pessoas que cuida dos doentes se doa ao trabalho, se dedica com amor e tenta compensar as adversidades.
Mas, apesar do quadro caótico, ouvi muita gente falando em esperança. No Hospital de Base, as opiniões estão divididas quando o assunto é a mudança para Instituição. Muitos profissionais que tinham optado por sair do HBB estão reconsiderando. Uma funcionária da UTI disse que “gostaria de ver realmente essa mudança, esse cuidado maior com a saúde. Estou muito esperançosa de que as coisas melhorem”. Outros atribuem ao período eleitoral a atenção extra: “Os governantes são gananciosos, e esse é o principal motivo de mostrar serviço agora em 2018”.
Falta dinheiro?
No meio da discussão, uma pergunta sempre é feita quando se fala nos problemas da saúde pública: falta dinheiro ou há falha na gestão?
Pra mim, sempre pareceu que a falta de recursos era o mais complicado. Mas, no início do mês passado, o Ministério Público do DF questionou a Secretaria de Saúde sobre a não aplicação de mais de 320 milhões de reais, repassados pelo SUS. Até o início de dezembro, segundo o Ministério Público, os recursos não tinham sido usados.
A secretaria rebate dizendo que até esta semana já liquidou quase todos os recursos. Utilizou 92% da verba de 2017 e 79% do dinheiro repassado pelo SUS em anos anteriores. E conclui, “portanto, não há de se falar que o governo deixou de usar R$ 323 milhões”.
Entre declarações conflitantes e números desencontrados, o fato é que precisa haver a máxima transparência em todas as medidas e nos gastos, porque o brasiliense busca e merece uma saúde de qualidade. E não dá pra entender que exista sequer um centavo não aplicado numa área tão carente.
2 Comentários
Marcela Mihessen
01/02/2018 at 10:05Márcia, eu tenho muita esperança mesmo que melhore. Até hoje, dia 1 de fevereiro, nada mudou lá no Hospital de base. Sobre os funcionários, tem os folgados, mas a maioria é bem trabalhadora mesmo. Além do nosso trabalho ser muito bem feito, ajudamos a manter o serviço da maneira que dá. Já comprei muita coisa e já consegui muita doação para o hospital. Já fizemos muita vaquinha também. Nem conseguiria enumerar todas aqui!
Marcia Zarur
04/02/2018 at 18:53Pois é! Tomara que as coisas melhorem Marcela, até pq piorar tá difícil…