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Lá na minha rua

Carnaval sem Babydoll de Nylon

O carnaval brasiliense vai sofrer uma grande baixa este ano . O bloco que bateu recorde de público em 2017 , reunindo 160 mil pessoas, anunciou que não vai sair.

O Babydoll de Nylon desistiu de ir para a rua, alegando falta de segurança, de estrutura  e muita dificuldade de diálogo com o Governo do Distrito Federal. Poxa , quando o carnaval de Brasília finalmente pega , vira um sucesso de público , o que era para ficar ainda melhor acaba em certa frustração…

Não é por falta de animação, nem de público, nem de empresas privadas interessadas em patrocinar os blocos. Afinal, por que este ano a organização do carnaval de rua  no DF está ainda mais cheia de polêmicas ?

Segundo grupos envolvidos na organizaçao do carnaval, o GDF demorou a destravar o processo e chegou a vetar o patrocínio privado aos blocos, liberando só agora, às vésperas do carnaval (leia abaixo  a íntegra da nota do Babydoll de Nylon). 

Cabe ao GDF garantir estrutura como segurança, organizar o trânsito, etc. O governo patrocinar os blocos diretamente é uma questão polêmica, em contrapartida, no setor privado há muitos interessados em bancar a festa. Mas entrou a questão: quem iria ser o dono do carnaval de Brasília? As empresas privadas ou o governo? E parece que o GDF não queria perder a paternidade da folia… 

Segundo os organizadores do Babydoll, muitos incidentes ocorreram no ano passado, pondo em risco o sucesso do evento. Eles explicaram que era necessário um novo formato, mas não conseguiram em tempo o apoio necessário para isso. A boa notícia é que eles prometem voltar em 2019 ! 

O outro lado

A secretaria de Cultura se surpreendeu com a decisão do bloco. Ao site Olhar Brasília, a Secult  garantiu que a estrutura  do carnaval de rua este ano será ainda maior e melhor do que a de 2017:

“Eles não acionaram a secretaria para apresentar suas queixas,. O bloco babydoll de nylon não se cadastrou para desfilar no carnaval. Todos os blocos que se cadastraram e solicitaram apoio do governo serão beneficiados com recursos que superam o dobro do que foi investido no ano passado, sem considerar o patrocínio direto da iniciativa privada, na ordem de R$ 1,4 milhão”, afirma a secretaria.

Confira abaixo a decisão do bloco : 

Nota oficial do Babydoll de Nylon sobre o Carnaval 2018

2017 foi um ano desafiador não só pela proporção que o Babydoll de Nylon atingiu (160 mil foliões na Praça do Cruzeiro), como também pelas situações fora do nosso histórico de folia que tivemos que lidar pela primeira vez: relatos de ataques homofóbicos e machistas, uso de spray de pimenta, depreciação de patrimônio público (invasão da área da cruz), brigas e sensação de insegurança.

Tais acontecimentos confirmaram que, apesar do orgulho por termos alcançado um público recorde, não consideramos que o bloco tenha sido um verdadeiro sucesso.

Além disso, reforçaram a necessidade de resgatar nossa essência, antes que algo mais grave pudesse acontecer. E por “nossa essência” entendemos continuar sendo um bloco realmente seguro, tolerante, com respeito às diferenças, amigável às pessoas de todos os sexos, idades e orientações.

Ou seja: proporcionar a curtição de um carnaval de qualidade e tranquilo para todos.

Comprovando que, quanto mais pessoas, menos controle teríamos sobre isso tudo, a solução encontrada foi mudar o formato do bloco para 2018, de maneira que pudesse existir um limite de público.

É muito importante destacar que a ideia do novo formato nunca foi, de maneira alguma, elitizar ou segregar o Babydoll de Nylon, mas proporcionar um controle na quantidade de foliões dentro da área de festa ainda sendo um evento totalmente gratuito.

Naturalmente, tal novo formato exigiria mais trabalho, mais abertura de diálogo com o governo e, claro, mais dinheiro investido proveniente de patrocínios privados.

Diante de tal realidade, o BDN, juntamente com os demais blocos que lutam para fazer o carnaval de rua do DF acontecer, tentou criar um grupo de trabalho junto ao GDF (SECULT) logo após o término do carnaval 2017. Mas as solicitações de reuniões e conversas não foram acatadas.

Infelizmente, o que aconteceu foi uma atuação independente do governo que se iniciou com o lançamento de um decreto na véspera do carnaval de 2017, seguiu com um seminário do carnaval para o qual nenhum bloco foi convidado a participar da construção e foi finalizada com um edital pouco atrativo para as empresas privadas e não resultando em nenhum aporte efetivo.

Para completar, diante da não concretização de patrocinadores oficiais, o governo decidiu não autorizar o patrocínio direto das empresas privadas aos blocos mesmo não tendo apresentado soluções efetivas para a garantia da festa.

A conversa do GDF com os blocos iniciou-se no dia 9 de Janeiro de 2018 (a um mês do carnaval e já em meio ao pré-carnaval), porém sem diretrizes claras de como as coisas funcionariam e com o que exatamente o governo conseguiria contribuir para corrermos atrás do prejuízo em tempo curtíssimo.

Na mesma reunião do dia 9, o governo voltou atrás na decisão contrária sobre o patrocínio direto das empresas privadas aos blocos. Ou seja, as negociações agora, a menos de 30 dias do início do carnaval, poderiam acontecer.

Diante dos fatos, decidimos reavaliar qual seria o nosso posicionamento. As possibilidades seriam: 1 – Tentar conseguir o aporte necessário para colocar o bloco na rua dentro do novo formato (mesmo sabendo que o valor seria maior do que em todos os anos anteriores e com pouquíssimo tempo para organizar um formato totalmente novo de bloco)

. 2 – Insistir no formato de sempre (mesmo correndo o risco de potencializar os problemas de 2017). 3) Não colocar o Babydoll de Nylon na rua em 2018.

E, com todo o pesar do mundo, a decisão foi a de não sairmos em 2018.

O Babydoll de Nylon está na rua desde 2011. Sempre buscando a melhor estrutura e segurança para o seu público, sempre buscando ser um bloco de amigos. Aquele que todas as pessoas sempre se referiram por ser lindo, por ser feliz, por ter uma atmosfera amigável e tranquila para todas as pessoas.

Aquele que em tanto tempo de folia, com tantas pessoas participando, nunca registrou uma ocorrência policial grave. É esse o bloco que nós, organizadores, e nosso público fiel queremos.

Em 2018 não poderia ser diferente e entendemos que, na atual situação de fatos já citados, não conseguiríamos garantir isso. Pouco dinheiro, pouco tempo para investir no trabalho enorme de reestruturação de um bloco que reúne milhares de pessoas na rua.

Não poderíamos correr o risco de não dar certo, não poderíamos correr o risco de não fazer um evento com todas as prerrogativas de segurança que hoje exigimos.

Nosso foco nunca foi e nunca será o dinheiro, em 7 edições jamais faturamos com o bloco, todo o investimento sempre existiu para melhorar o evento para o público presente e, infelizmente, por diversos motivos, não tivemos o investimento ideal, dentro do prazo ideal para colocar o bloco na rua da maneira que acreditamos ser a correta.

Em 2019 estaremos de volta, com uma nova estrutura, com mais segurança, com o tempo necessário para negociar os patrocínios suficientes que permitam devolver todo esse nylon para vocês, vocês, vocês.

Esperamos que haja um reconhecimento do carnaval como uma festa que traz alegria à população, que valoriza as tradições populares, que traz recursos para a cidade e retorno para as marcas que apoiam o evento.

Esperamos que essa noção óbvia de que um carnaval forte em Brasília é algo bom para TODOS seja acompanhada de bom senso por TODAS as partes.

Esperamos que o diálogo com o governo seja horizontal e que, ao invés de novos empecilhos, sejam criadas novas soluções para que, não apenas o BDN, mas todas as manifestações culturais de Brasília possam colocar suas cores nas ruas da cidade.

Afinal, a cidade é das pessoas e isso não pode ser esquecido de jeito nenhum. E esperamos, acima de tudo, que as pessoas que lutam e fazem o carnaval acontecer sejam respeitadas e inseridas na construção de uma das maiores manifestações populares do país.

Mais uma vez, isso não é uma despedida, mas um até logo.

Obrigado.

Daniel Obregon
David Murad
Paula Cunha
Raphael Pontual
Rosely Youssef
Toscanine Heitor

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