Por Samanta Sallum
Eu SOU mulher e ninguém vai me ensinar como é ser mulher e como deve ser uma mulher politicamente correta! E desculpem o palavrão, mas ser mulher é foda. É foda mesmo! Eu adoro ser mulher, mas é um desafio gigante! Não posso me definir como uma feminista. Em respeito à história do movimento feminista, não posso sair por aí papagaiando que sou feminista.
Pois muita gente confunde as coisas, acha que falar de mulher é igual a ser feminista. Mas neste espaço não vou tratar da história do feminismo. Aqui vou extravasar a preguiça que eu tenho com o Dia das Mulheres, não com a data em si, mas como ela é “comemorada”…
Hoje vem aquela melação toda, argh, argh. O mundo tem de ficar cor-de-rosa, recebemos “homenagens”, somos belas flores no jardim. É claro que eu adoro receber flores, mas não precisa me comparar a elas, só se lembrar de que temos espinhos também. Não somos bruxas nem florzinhas!
Preguiça daqueles clipes que passam o dia inteiro com aquela música do John Lenonn (que eu adoro !) Woman. Coisa batidaaaaaaaaaa. Ou aquela do Erasmo Carlos – mulher, mulher… argh, argh! O dia vale para a gente fazer uma homenagem às mulheres que, ao longo da história, fizeram a diferença e abriram os caminhos para que novas gerações chegassem ao mundo um pouco menos hostil e desrespeitoso, que nos ajudaram a conquistar nossos direitos civis. Mas essa é uma batalha permanente.
Pior que opressão masculina, às vezes, é a opressão da mulher com a mulher. Uma oprime e critica a outra. Nada de regras para ser uma mulher exemplo, por favor! Esta divisão de categorias – mulher engajada, mulher feminista, mulher salada de fruta, mulher gostosa, mulher executiva, mulher mãezona, mulher macho , mulher fitness. Vagaba ou de respeito… Oh, coisa chata e defasada! A mesma mulher pode reunir várias mulheres nela.
Não é exagero. É um massacre para todas as “categorias”. Se você é uma, vão te cobrar que seja a outra. Se tem corpo escultural, tem que provar que tem cérebro. Se é inteligente, não basta – tem que malhar a bundinha e empinar os peitos. Se é dona de casa, é uma encostada no marido. Se trabalha fora, está abandonando os filhos para cuidar da carreira. Por que temos de viver nos explicando, correndo atrás de algo que sempre parece nos faltar?! Não só para os homens, mas também para as próprias mulheres!
Ser mulher é foda porque é uma cobrança absurda. É questão rasa e ridícula tratar a questão como mera guerra dos sexos. Tem a ver com os inúmeros papéis que temos de desempenhar, uma cobrança que vem da sociedade e não apenas dos homens. A todos que me dão parabéns pelo Dia das Mulheres eu teria vontade perguntar: o que você faz todos os dias para a mulher ser mais respeitada, ter as mesmas chances. Como trata sua esposa, namorada, filha, secretária ou chefe?
Angústias e depressão
Eu gosto muito de ser mulher, tenho 44 anos, sou divorciada, não tenho filhos, trabalho no que eu amo e me sinto realizada. Mas, volta e meia, tenho de dar explicações… Admiro muitas mulheres que dão conta de mil coisas, mas elas são sacrificadas. Detesto vitimismo. Mas a mulher é mais vulnerável, sim, o que não significa ser inferior!
Ela sofre mais com a violência, sim; ela que encara a gravidez ou a não gravidez, por mais que o companheiro seja presente nesse período. Ela que dá o peito. E ela que sofre muito se não consegue dar o peito e amamentar seu filho. São dores e angústias que só ela sente e são as mesmas em todas as classes sociais. Umas podem sofrer mais que outras, mas muitos dos sofrimentos são exatamente iguais. Nossa, ser mulher não é mole, não! E é lindo ao mesmo tempo!
Sabemos de homens que são melhores mães que mulheres. Até essa obrigação de ser mãe perfeita é massacrante para a mulher. A cada desafio que ela vence, outros mais se multiplicam. O que desejo de coração a todas as mulheres é que se libertem de qualquer angústia e sofrimento causados pela ansiedade de corresponder a todas as cobranças que nos fazem. Que se libertem da pressão dos padrões estéticos, da maternidade, da sexualidade , da carreira … Que se libertem da pressão para serem mulheres-maravilhas!
Algumas mulheres caem em depressão profunda por causa de tantas pressões. Que tenhamos a liberdade de ser mulher da forma que mais nos fizer felizes e não ter que “aprender” a ser mulher. Mulheres e homens podem não concordar comigo, mas eu vou continuar sendo mulher. Então, esse festival de ataques que ocorre quando uma abre a boca é babaca demais. Chega de patrulha!
Minha maior rebeldia na vida foi desde cedo, desde criança, não aceitar nenhum padrão de como é ser menina, como é ser mocinha, como é ser mulher. Sempre quis ter o direito de ser moleque. Confesso até que uma época no início da adolescência gostava do desafio de fazer tudo o que seria padrão um garoto fazer. Eu posso, eu posso, então eu jogava futebol. Hoje, isso é balela e futebol virou coisa de mulher, também. No Dia das Mulheres, gostaria que não me olhassem de forma diferente, como um ser que precisa de uma adulação. Eu só quero respeito todos os dias.
3 Comentários
ADRIANA MAGALHAES ALVES DE MELO
09/03/2018 at 13:32Que legal! Adorei o texto. Detesto o nhenhenhem do Dia da Mulher! Somos foda mesmo!
Sonia Silva
14/03/2018 at 10:56Simplesmente AMEI o conteudo desse site! Estão de parabéns, já até deixei na aba de favoritos aqui D
André Victor
09/03/2019 at 07:07Excelente! Como sempre. Tava com saudades do Olhar. Parabéns!