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Olhar Brasília

Luis Humberto

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Marcia Zarur

Monumento ou prisão?

Não é juízo de valor, não é provocação, não é metáfora! É literal: o Supremo Tribunal Federal está atrás das grades. Há quase 5 anos a agressão virou desrespeito fixo. As grades estão lá, incorporadas à paisagem, na Praça dos Três Poderes. Desafiam a genialidade de Lucio Costa, diminuem a monumentalidade de Niemeyer, irritam (ah, como irritam!) os brasilienses.

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Mês passado, meu colega, e professor da UnB, Sérgio de Sá me presenteou com o livro ‘A Luz e a Fúria’, da coleção Brasilienses. Um belíssimo passeio pela vida do fotografo Luis Humberto, de quem sou fã declarada. Folheando a obra, escrita pela jornalista Nahima Maciel, me deparei com a poética foto que ilustra esse post.

Quem é o dono da cidade?

Luis Humberto capturou esse momento lúdico e mágico na década de 70, e me inspirou a escrever, mais uma vez, sobre as famigeradas grades. Eram tempos sombrios de ditadura militar mas, inacreditavelmente, em alguns aspectos a cidade pertencia mais aos seus moradores do que nos dias de hoje.

Nenhum concreto é tão frio e nenhuma hierarquia é tão sisuda que não se dobre a uma despretensiosa brincadeira de criança… Eu cresci nessa Brasília, onde o programa de fim de semana era escalar a cúpula do Senado.

IMG 0309 e1522281958958A cidade era nossa! Mas e agora? Já tentou levar filhos ou sobrinhos pra refazer as peripécias de infância? O máximo que eles vão conseguir é escorregar em pedaços de papelão pelos gramados do Congresso – e olhe lá… Cercas, grades e vigias não vão permitir nem que se chegue perto dos prédios e esculturas.

O Ministério Público Federal em Brasília entrou com uma ação civil pública no fim do ano passado, pedindo a retirada das grades. Segundo o documento, as grades fixas seriam uma violação ao patrimônio histórico e cultural da cidade. O juiz negou o pedido, mas o Ministério Público recorreu da decisão. Aguardamos uma resposta! É claro que a segurança de quem trabalha lá é fundamental, mas sinceramente não acredito que essas cerquinhas façam alguma diferença real na proteção de quem quer que seja…

Enquanto isso, um dos nossos mais importantes cartões postais segue desfigurado. E continua distante o dia em que vamos voltar a ver algazarra de criança, como na foto, na praça que é do povo.

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Um comentário

  • Reply
    Tânia Battella
    29/03/2018 at 17:29

    A cidade é nossa. Mas a Justiça parece que além de cega é surda e muda… parece que não existe…

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