Convidado: Régis de Godoy-Rocha, 42 anos, é jornalista e um brasiliense do quadradinho que rodou o mundo para descobrir que o seu lugar é aqui mesmo.
Não é de hoje que os brasilienses assistem a interminável discussão em torno dos puxadinhos nas quadras comerciais da Asa Sul. Vez por outra fala-se em regulamentação do uso dos espaços públicos que foram usurpados pelos comerciantes, ou então comenta-se que o poder público vai, enfim, fazer valer a lei e derrubar as invasões.
É óbvio que a questão estética pesa nessa história. Ao longo dos anos as quadras comerciais da Asa Sul foram se tornando a epítome do caos e do desrespeito à harmonia e padronização pensadas por Lúcio Costa ao projetar a cidade.
As fachadas irregulares e mal acabadas que se voltam para as quadras residenciais se apinham como uma favela, o que denota o abandono de uma área que ficou entregue ao entulho, lixo e usuários de droga.
E não é só isso. O acinte verdadeiro fica por conta da desfaçatez de comerciantes que, sem dar satisfações a ninguém – muito menos ao poder público, que parece cego ou refém dos invasores – tomam para si um espaço público para explorá-lo como se fosse seu.
Se eu fosse enumerar aqui todos os absurdos que encontramos pela Asa Sul, a lista seria longa e repetitiva. Então uns poucos bons exemplos bastam.
Na comercial da 107 sul, uma churrascaria não se satisfez em fechar com alvenaria e vidro toda a marquise lateral do prédio, como também avançou sobre a área verde para ampliar o seu salão.
Do outro lado da rua, na 108 sul, uma galeteria seguiu-lhe o exemplo e tomou para si a marquise que é e continua sendo espaço público. Nos dois lugares, entram clientes dos estabelecimentos.
As passagens entre os prédios comerciais, que ligam a quadra residencial à via comercial, igualmente costumam ser apropriadas como se não pertencessem a ninguém.
Na comercial da 408/409 sul, por exemplo, um hortifruti achou-se no direito de fechar quase tudo com alvenaria, deixando apenas um beco escuro, estreito e sujo para os pedestres. E, o pior, tenta esconder seu mal-feito com um imenso toldo vermelho.
É claro que esses espaços nas extremidades e no meio dos prédios comerciais existem para serem usados, mas com civilidade e bom senso. Ali é o lugar onde se pode colocar mesas, por exemplo, mas sempre respeitando o livre trânsito de pessoas, porque afinal é uma área pública. Impedir a passagem, seja levantando paredes, seja usando vasos de plantas, não é nada mais além de crime contra o patrimônio comum da população.
Um crime que, infelizmente, a população e as autoridades se acostumaram a tolerar.
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