Por Marcia Zarur
A carga pesada de um hospital já é amenizada, logo na entrada, pelo jeitinho de brinquedoteca. O trenzinho na recepção aplaca um pouco da angústia das famílias e distrai os pequenos pacientes. Paredes coloridas e enfeitadas para encher de esperança o coração apertado pelo diagnóstico de um câncer ou de uma doença rara.
Tudo é decorado com motivos infantis também na sala de tomografia. E a chegada de um barquinho para cobrir a maca do tomógrafo vai substituir um pouco do estresse do exame pela ideia lúdica de um passeio. O equipamento de última geração faz o procedimento em metade do tempo normal.
Na radioterapia, os funcionários compraram e instalaram um DVD da Galinha Pintadinha para tornar o tratamento menos agressivo. Resultado? Puderam diminuir em mais de 60% o uso dos anestésicos tradicionais.
Em cada atendimento, o olhar carinhoso e o sorriso de uma equipe que faz de tudo para diminuir a dor dos pequenos pacientes. Não há nada mais triste do que uma criança doente!
O atendimento humanizado, com equipamentos de ponta e profissionais completamente comprometidos com o bem-estar dos pacientes, diminui um pouco a tristeza que ronda qualquer hospital infantil. Mas tudo isso está em risco!
Padrão de excelência
O Hospital da Criança é referência, não só em Brasília, mas no resto do país. Com reconhecimento de excelência até da Organização Mundial da Saúde. O tratamento digno que todos deveriam ter, e que passa a léguas de distância da maior parte das unidades públicas de saúde, é realidade aqui, na nossa cidade. Motivo de orgulho, reconhecimento e esperança.
Num país onde é tão difícil ver o serviço público funcionando direito, por que atacar e destruir o que se destaca como modelo de gestão e atendimento de qualidade?
É a pergunta que me faço sem parar depois que visitei o hospital. Conversei com famílias de pacientes, com funcionários e gestores. Vi com meus próprios olhos como tudo funciona. E funciona muito bem mesmo!
Apesar disso, a administração do HCB é frequentemente questionada pelo Ministério Público do DF e Territórios. A procuradora Cláudia Fernanda de Oliveira Pereira e a promotora Marisa Isar entraram, nos últimos anos, com pelo menos seis processos contra a gestão do hospital.
Tentei diversas vezes uma entrevista com a promotora, mas até hoje não obtive resposta. Sou uma grande admiradora do trabalho que o Ministério Público desenvolve. Especialmente o de fiscalização, para que pessoas e instituições andem dentro da lei no “Brasil do jeitinho”. Mas realmente nesse caso tenho muita dificuldade em entender…
Qual é o problema?
A gestão do Hospital da Criança era feita, até a semana passada, pelo Icipe (Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada). Uma Organização Social criada pela ABRACE. Mas, na última sexta-feira, 13, cumprindo decisão judicial, o Instituto colocou à disposição da Secretaria de Saúde a gestão do hospital.
O mais incrível é que a própria Secretaria de Saúde atesta que não tem condições de gerir o Hospital da Criança, e que a administração deveria continuar com o Icipe. Esse também é o desejo dos funcionários e especialmente das famílias das crianças.
E mais: o Tribunal de Contas do DF já aprovou a regularidade do contrato de gestão. O Tribunal de Contas da União também não constatou qualquer tipo de irregularidade. E a Controladoria-Geral do DF aprovou as contas do Contrato de Gestão de todos os anos questionados pelo Ministério Público.
Então qual é o problema? Não houve desvio de verbas ou má administração. Pelo contrário. O Hospital da Criança tem 98,8% de aprovação dos usuários e 96% de satisfação dos funcionários. Nunca vi números assim em qualquer rede pública brasileira, seja na saúde, seja em outra área.
#SomosTodosHCB
Hoje, os funcionários vão trabalhar de preto em sinal de luto pelo processo de destruição que começa a se instalar. E na próxima quarta-feira, dia 18/4, haverá uma grande manifestação, a partir das 9h30, no estacionamento do hospital, pedindo a manutenção da gestão de excelência.
Parece mentira que a população precise se mobilizar para que não mexam no timaço que está ganhando, salvando vidas e proporcionando qualidade de 1o mundo a pacientes que não têm recursos.
Entre pilhas de papéis, analisando formalidades e vírgulas, na burocracia do Ministério Público e nas decisões judiciais estão a vida e o bem-estar dessas crianças. Por isso, faço coro e entro na luta em defesa do nosso Hospital da Criança de Brasília. #FicaIcipe #SomosTodosHCB
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