E assim ela tomou conta de mim… É uma delícia olhar Brasília pelos olhos dos outros. Me inspirou a escrever mais um texto sobre ela. Numa tarde de domingo, numa em que eu posso dizer típica tarde minha brasiliense. Então lá fui eu para o meu quintal verde, o Parque Olhos D’Água. Eu, que moro no fim da Asa Norte, adoro aquele recanto.
Depois das minhas pequenas trilhas, dei mais alguns passos fora do parque e fui para outro cantinho afetivo reabastecer as energias, a Duna Casa Húngara. E lá encontrei casualmente alguns amigos. Então, a gente pede guloseimas, cafés e o papo rola.
E quem aparece como personagem da história? Essa nossa bucólica Brasília que tomava conta do pedaço naquela tarde ensolarada. Entre os amigos que dividiam comigo a mesa, um brasiliense confessa: “Só fui realmente entender, compreender a cidade em que nasci, quando fui morar em São Paulo”.
Ele lembra que achava Brasília assim, assim… Nada demais. Quase um tédio. Até que foi desbravar o mundo na selva de pedra paulista. “Passei a me sentir agredido visualmente”, conta ele. E completa lançando o olhar longe atrás da mesa, ao ar livre, na comercial da 214 Norte. “Brasília é isto: eu olho para os lados e vejo jardim, vejo verde, árvores. Brasília me descansa os olhos”, declama.
Ele me lembrou de tantos outros amigos meus que fizeram esse mesmo movimento. Nasceram em Brasília, cresceram aqui e quando jovens adultos foram para São Paulo experimentar algo novo. Alguns ficaram pouco tempo, outros até por muitos anos. Mas voltaram para Brasília. Um outro me disse que, depois da vida em São Paulo, Brasília virou para ele um certo paraíso.
Desculpe, querido Régis. Me apropriei um pouco da sua história. Não me contive. Lembro que te pedi para escrever sobre essa sua experiência. E aguardo, pois trará mais detalhes e permitirá ainda mais que outros tenham essa experiência. Ver Brasília com os olhos de outras pessoas.
Gostei muito de ver a cidade pelos seus olhos. Foi doce como a nossa tarde, como os pedaços de tortas, com o charme da história húngara de amor escandaloso entre uma nobre e um cigano, como a lasca de pera que roubei da tartalete de nossos amigos.
Brasília, você é uma delícia! Temos pedacinhos do Brasil e do mundo aqui! Temos o verde da cidade-parque, temos o azul, laranja, vermelho e roxo do céu, o luar monumental, o amarelo e branco dos ipês, as curvas do concreto. E, sim, as esquinas, onde se encontra gente amiga! Como essa que promoveu o nosso encontro.
É por isso que sempre chamo Clarice: “Brasília é um olho azul cintilantérrimo que me arde o coração” – Clarice Lispector.
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