Convidado: Ronaldo Fleury é Procurador-geral do Trabalho, morador de Brasília e defensor da cidade.
Agir com zelo e lealdade, atender com presteza e urbanidade, mais do que deveres, são qualidades inerentes a quem escolheu ter o povo como chefe. Porque não é apenas uma vocação, é toda uma escolha de vida.
Muito além da mera estabilidade ou mesmo da realização profissional, a possibilidade da satisfação daquela vontade utópica de ajudar a mudar o mundo, ou ao menos contribuir, de alguma forma, para o bem-estar social, foi o que me motivou a abraçar a missão de servir ao público.
Ter sido criado em Brasília exacerbou em mim essa vontade utópica, uma cidade nascida de um sonho e vocacionada a ter o povo como chefe, hoje com cerca de 400 mil pessoas que trabalham no serviço público, segundo o último censo do IBGE. Foi em Brasília, esse lugar feito de gente de todo o país, que, numa “repartição”, em 1984, conheci aquela que seria minha esposa, nos corredores da Justiça do Trabalho, onde a gente servia o público.
Naquela época, órgão público era chamado de “repartição”, o que dava a ideia de ser parte de um todo. Também não deixa de o ser enquanto “órgão”, com sua respectiva função no corpo da Administração Pública, sem o qual ela não vive, não funciona. Talvez daí venha a expressão “funcionalismo público”, atividade feita a partir dos órgãos que formam sistemas interligados e movidos pelos cidadãos, que alimentam e sustentam essa máquina.
E ainda que o nosso chefe venha conquistando, desde o retorno da democracia, cada dia mais instrumentos para fazer valer cada centavo injetado nessa máquina, como a Lei da Transparência, por exemplo, é preciso estar atento, pois o serviço público corre o risco de ter suas atividades prejudicadas, diante das ameaças da implantação do estado mínimo. A corrupção e a falta de zelo não podem ser imputadas ao serviço público, mas a seres humanos débeis e inescrupulosos. Temos que enxergar a floresta e não apenas as folhas podres.
Carlos Drummond de Andrade, que também foi servidor público, disse, num poema, antevendo os desafios do porvir: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. Para o servidor público vacinado na arte de cumprir sua missão, que traz consigo o sentimento do mundo, esse é só mais um obstáculo a ser vencido.
E digo isso não só pela necessária valorização e pelo meu profundo reconhecimento da dedicação de muitas pessoas que escolheram ter o povo como chefe. Mas para que se mantenha viva, e se multiplique, aquela vontade utópica de mudar o mundo.
E essa mesma esperança, experimentada por milhares de “candangos e pioneiros” como meus pais, que aqui chegaram no nascimento dessa nossa amada Brasília, me faz acordar todos os dias, para dar sentido à minha existência fazendo aquilo para o qual sou vocacionado: servir ao público, que, no Ministério Público do Trabalho, é essencialmente formado por trabalhadores, portanto, meus chefes.
Por isso hoje, 34 anos depois daquele encontro promovido pelo “funcionalismo público” (como tantos outros que certamente acontecem na capital federal), exatamente em razão da recente aposentadoria conquistada pela minha mulher, Flávia, na Justiça do Trabalho, é que dedico a ela essas breves palavras, com toda a minha admiração.
Às vésperas do Dia das Mães, esse é também um pequeno gesto de agradecimento à mãe dos meus filhos, de quem tanto me orgulho e com quem tenho o privilégio de multiplicar as utopias e transformar sonhos em realidade.
Um comentário
ANDERSON SOTERO
11/05/2018 at 12:49O problema não é o servidor mediano . Mas algumas categorias que controlam gordos fatias orçamentárias. O MP é um exemplo com seus penduricalhos salários e prédios chiques. Isso o procurador não se preocupa.