Convidada: Adriana Magalhães nasceu em Brasília, é servidora pública, tem o blog de viagens Atravessar Fronteiras e faz parte de um grupo de blogueiros que divulga a beleza de nossa região, o Vem pro Cerrado.
Eu me mudei para o Lago Norte com 3 anos, em 1976.
Você consegue imaginar como era o Lago Norte naquela época? Era uma verdadeira cidade do interior.
As ruas (os conjuntos) não tinham asfalto. Cada conjunto tinha poucas casas construídas, mais da metade dos terrenos em cada rua era desocupada. Eu morava no início do Lago Norte, na QI 02, e era um pouco mais habitado.
Visitar o fim do Lago Norte era simplesmente uma viagem ao interior. Animais silvestres eram visitas frequentes nas nossas casas. Cansei de ver patos nadando na piscina, cobras no fundo da água, gambás pendurados na cortina.
Nesse mundo quase desabitado, habitavam crianças. Muitas crianças. Muitos adolescentes. E a gente vivia na rua. Brincando livres, leves e soltos. Nos fins de semana, pai e mãe só lembravam que tinham filhos quando chegava a hora de dormir, daí saíam todos mais ou menos ao mesmo tempo gritando o nome de cada um. E íamos embora, prontos para recomeçar a brincadeira no dia seguinte.
As casas em construção eram lugares perfeitos para guerra de mamonas, que colhíamos nos terrenos baldios. Imagino o susto dos pedreiros ao chegar para trabalhar e ver as paredes pintadas da gosma verde das mamonas.
Andávamos muito de bicicleta. Adorei quando inauguraram o parque do Lago Norte, que chamávamos de ciclovia, ao lado da Ponte do Braghetto. Tinha uma cachoeira, tinha parquinho, tinha área para churrascos. Isso tudo existe até hoje, mas naquela época era mais utilizado.
Na minha adolescência, frequentava a igreja Nossa Senhora do Lago, que ficava na casa do Padre Gustavo, na QI 02. Fiz o Segue-me e conheci mais gente ainda.
Trabalhei muito tempo como mesária nas eleições na escola pública no Lago Norte, e era uma festa, encontrava pessoas que fizeram parte da minha infância e ficávamos batendo papo.
Cresci no meio da capital federal, centro do poder brasileiro, mas minha infância certamente não deixou nada a dever para uma infância nas cidades do interior do Brasil. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo de hoje.
2 Comentários
ADRIANA MAGALHAES ALVES DE MELO
28/05/2018 at 09:39Ebaaaaa! Foi uma honra escrever esse texto sobre nossa deliciosa cidade para vocês!
Maria Auxiliadora
30/05/2018 at 19:40Amei prima! Escreva mais. É tão bom saber de história que serviram de alicerces para a linda família da qual você faz parte , eu também, e que amo muito.