“Basquiat é um artista nova-iorquino. Então, é preciso conhecer um pouco a Nova York do fim dos anos 70 e início dos anos 80 para entrar na atmosfera do trabalho dele”, diz Pieter Tjabbes, organizador da maior exposição do artista americano Jean Michel Basquiat já realizada na América Latina. E podemos passear um pouquinho por essa Nova York nas galerias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), entrando no universo daquele jovem rebelde artista, intensamente criativo na sua forma de expressão.
Aos 16 anos, Basquiat começou a espalhar poemas e símbolos por Nova York assinados como SAMO (Same Old Shit). Em português, Sempre a Mesma Merda). Os grafites e cartazes na linha D do metrô e em outras áreas de Manhattan atraíram a atenção. Basquiat fazia intervenções na cidade como forma de expressão, de inquietude.
“Acredite ou não, eu realmente sei desenhar, mas eu sempre tento muito lutar contra isso”, dizia Basquiat, que sempre evitou amarras ou qualquer coisa que limitasse sua criatividade. Sua arte era a explosão de traços impulsivos, espontâneos e, em muitos trabalhos, infantis.
Por isso, tem quem olhe uma obra dele e pense: “Meu filho faria melhor”. Mas basta entrar um pouquinho na sua história para entender quanta arte traz suas obras e quanto significado escorre de seus traços.
O cenário de empolgação e decadência nova-iorquino do fim dos anos 70 está lá no CCBB em imagens e refletido nas obras de Basquiat. A retrospectiva sobre o artista conta com mais de 80 peças. Brasília é a segunda cidade a receber a exposição, que estreou em São Paulo. Ela fica até 1• de julho na capital, com entrada gratuita. Daqui, segue para BH e Rio de Janeiro.
Basquiat nasceu em 1960 e morreu muito jovem, aos 27 anos, de overdose. Seu pai era haitiano e sua mãe, descendente de imigrantes porto-riquenhos. Desde muito cedo, foi reconhecido como um garoto excepcionalmente inteligente. Foi estimulado pela família a desenvolver seu talento para as artes. Mas saiu de casa cedo, ainda adolescente.
Leitor compulsivo, foi atropelado quando criança brincando nas ruas do Brooklyn (EUA). No acidente, um de seus braços foi quebrado e seu baço teve de ser extraído. Durante o longo período de recuperação, sua mãe deu-lhe um exemplar do livro Gray’s Anatomy, um atlas de anatomia humana do século XIX que influenciou seus trabalhos artísticos mais de uma década depois.
Quando morreu, em 1988, Basquiat era uma estrela do cenário artístico de Nova York. Sua produção usava materiais simples, como papel comum, colagens, cópias reprográficas e a combinação de imagens humanas (com frequência inspiradas no livro de anatomia que sua mãe lhe deu). Usava esquadrias de janelas e pintava também em peças de madeira jogadas fora que ele achava pelas ruas.
No ano passado, uma tela sua, Sem título (1982), foi vendida por mais de US$ 110 milhões num leilão, fazendo desse trabalho a mais cara obra de arte norte-americana já vendida. Basquiat foi também um raro artista negro de sucesso e, em sua breve carreira, trouxe à tona isso em sua obra e os traumas vividos pelos negros nos EUA.
Uma das galerias da exposição do CCBB apresenta as obras de Basquiat com o artista Andy Warhol, de quem se tornou amigo. Entre 1984 e 1985, eles trabalharam em parceria em uma série de quadros. Do trabalho conjunto, podemos ver Heart Attack (Infarto, 1984). Nesse período, Basquiat é um artista celebrado, disputado pelas galerias e com frequentes exposições internacionais. Em 1988, ano de sua morte, expôs em Paris (França) e em Düsseldorf (Alemanha).
Quanta história pude conhecer melhor na visita guiada no CCBB esta semana com o organizador da exposição, Pieter Tjabbes. Eu recomendo! Vale “olhar” essa Nova York e esse Basquiat que estão aqui em Brasília!!
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