Hoje é: quinta, 23 de janeiro de 2025
Olhar Brasília

Fotos: acervo pessoal

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Espaço convidado

Camisa da sorte

Convidado: César Fechine é jornalista, graduado pela UnB, trabalhou na redação do Correio Braziliense. É servidor público, com especialidade no setor elétrico. Brasiliense, amante da natureza, ciclista (moderado) e cronista esportivo (muito) ocasional. E Mexeu com Brasília, Mexeu Comigo!

O meu jogo inesquecível da Copa começa às 3h20 de uma madrugada fria de junho quando toca o despertador do celular. Pus para tocar 10 minutos antes do jogo. Por alguns segundos, penso se vou realmente me levantar ou não. Mas os fogos que explodem por entre os blocos do Cruzeiro não me deixam mais dormir. Levanto-me para banhar o rosto e beber um copo d’água.

– Oi, filha, vai começar. Você quer mesmo ver o jogo?

Natália está prestes a completar cinco anos de idade, mas, antes de dormir, viu na televisão que o jogo era muito importante para o Brasil. E pediu-me para acordá-la. Ela esfrega os olhinhos e levanta-se.

– Vamos ver, pai, diz, decidida.

Preparo um sanduíche para cada um de nós, um café pra mim, e com leite pra ela.
Para muitos analistas, o jogo contra a Inglaterra pelas oitavas-de-final, na madrugada daquela sexta-feira, 21 de junho de 2002, em Shizuoka, no Japão, bem que poderia representar uma final antecipada da Copa.

O jogo começa nervoso. As equipes se estudam e a marcação é forte quando, aos 23 minutos, num lançamento para o ataque inglês, Lúcio dá bobeira e a bola sobra para Michael Owen, que não perdoa: Inglaterra 1 x 0.

A essas alturas, a Lourdes, nossa secretária, e a Jaira, cunhada que morou conosco por uns tempos, juntam-se a nós. O jogo continua nervoso e a ansiedade aumenta.

– Está na hora de vestir minha camisa da sorte.
Minha filha se enrola então no cobertor e veste a camisa do Brasil número 9, conforme me pediu, por cima do moleton rosa.

No lance seguinte de ataque do Brasil, aos 45 do primeiro tempo, Ronaldinho Gaúcho parte num contra-ataque rumo à intermediária adversária. Num gingado de corpo, ele deixa Cole completamente perdido, avança entre Scholes e Sinclair, e serve a Rivaldo, que chuta cruzado no canto direito de Seaman, empatando a partida.

– Viu, num disse que ia dar sorte! Abraço e pulo com minha filha nos braços. Nós, os vizinhos, e o Brasil inteiro, explodimos em gritos, pulos, abraços e beijos.

unnamed 1 4Vem o segundo tempo e, aos cinco minutos, o juiz marca falta para o Brasil na intermediária do adversário. Ronaldinho Gaúcho finge que vai cruzar, vê o goleiro adiantado e dá um chutão na bola que entra no ângulo superior direito. Brasil 2 x 1 Inglaterra. Um golaço digno de muitas reprises. Nervoso, o Gaúcho seria expulso por uma entrada dura num adversário, mas a equipe sabe suportar a pressão e garantir a vitória.

Num jogo que teve atuação discreta de Beckham e companhia, o Brasil jogou para inglês ver… E aprender! O time teve uma atuação convincente daquele jogo em diante, especialmente do trio composto também por Rivaldo e Ronaldo, o Fenômeno, camisa 9.

A partir da vitória contra a Inglaterra, a camisa da sorte seria usada quase que diariamente. Na semifinal, Brasil 1 x 0 Turquia. E a consagrada vitória sobre a Alemanha por 2 x 0, com dois gols do Fenômeno. Pentacampeão! Pentacampeão!

Dezesseis anos depois, o momento é outro, muito adverso: escândalos de corrupção, crises política e econômica sem fim, no Judiciário, greve dos caminhoneiros, entre outros problemas, deixam o brasileiro cabisbaixo. Mas, que a faxina que começou neste eterno país do futuro seja geral!

E ainda tem o vexaminoso 7 x 1. Bom, mas se serve de consolo, no único confronto direto com os alemães, está 1 x 0 pra nós. E ganhamos deles também na final das Olímpiadas.

Chegamos a 2018. No primeiro jogo nesta Copa, Brasil e Suíça ficaram no 1 x 1. Neymar chamou mais atenção pelo corte de cabelo que, pra mim, lembra o rabo de uma raposa, ao contrário. E loira. Para outros, lembra os pelos de uma lhama. E que golaço do craque Philippe Coutinho! No mais, os jogadores até se esforçaram, mas o time não foi efetivo.

O pior foi o juiz mexicano César Ramos ter prejudicado o Brasil de forma acintosa: Miranda foi empurrado no gol suíço; e Gabriel Jesus, certamente, faria o gol se não fosse seguro e deslocado. E o juiz não usou em nenhum desses lances polêmicos o recurso do árbitro de vídeo. Que a comissão de arbitragem da Fifa ponha esse juiz na geladeira.

Mas, tudo bem, Tite vai acertar a equipe contra a Costa Rica.
É hora de comprar uma nova camisa amarela.
– Agora eu quero a do hexa, já avisou Nat.

Então, pra cima deles, Brasil. Porque ainda vai dar samba em Moscou!

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