Convidado: André Giusti é escritor, apaixonado por atualidades, comportamento e literatura.
A seca em Brasília é bela, tão bela quanto cruel para com os sistemas respiratórios mais sensíveis.
O estio na capital do país é paleta de cores a ser descoberta pelos olhos mais atentos e menos apressados, aqueles que se ocupam com a vida que de fato existe, aquela que corre do lado de fora das alienantes (e imbecilizantes) telas de smartphones.
Nos últimos dias, Brasília está lilás.
É a primeira leva de ipês que se derrama pelos eixos e quadras, anunciando, justamente, a abertura oficial da estiagem.
Lá pela metade de agosto, será a vez dos ipês-amarelos.
Eles são o 2º aviso da criação, a de que a seca está no auge e que você não deve se aventurar a pé por aí, debaixo do sol das 2 da tarde, pois há o risco de se tornar um graveto estorricado antes de chegar a seu destino.
Os ipês-amarelos são uma forma deslumbrante de bela de te preparar para a crueldade desses dias em que se você passar com mais força a sola do sapato na grama, periga provocar uma queimada.
A 3ª e última leva de ipês, a dos brancos, aflora lá pela virada de setembro para outubro, e, além de beleza, ela traz o aviso mais esperado do ano por quem mora em Brasília: a de que a chuva está próxima.
Dito e feito: entre 10 e 15 dias, a água desce, ressuscita a grama e a nossa esperança de que a vida vale mesmo muito a pena, embora com um ou outro desgosto aqui e ali.
Portanto, decore: lilás, amarelo e branco – começo, meio e fim – ascensão, apogeu e declínio da seca.
É a tecnologia da mãe natureza, muito mais bela e perfeita do que qualquer Apple ou Samsung.
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