Brasília demorou 1.000 dias para ser construída. Uma cidade inteira, erguida no meio do cerrado, com os recursos disponíveis no fim da década de 1950. Pois em pleno século XXI, com toda a evolução das últimas décadas, já são quase 2.000 dias que o Teatro Nacional segue fechado, à espera de uma reforma que nunca chega.
Em 2014, o Corpo de Bombeiros interditou as duas mais importantes salas de espetáculo da capital, a Villa-Lobos e a Martins Penna, apontando 113 irregularidades. De problemas estruturais a falta de acessibilidade, o prédio apresentava riscos para os frequentadores. Nos últimos 5 anos, muitas promessas e nenhuma ação. O brasiliense continua convivendo com o abandono de um dos grandes símbolos da arquitetura, do turismo e da cultura brasiliense.
O Teatro Nacional, que reuniu quatro gênios da construção de Brasília, não merecia tal desfecho. No projeto de Lucio Costa, o Setor de Diversões seria uma mistura de Champs-Élysées e Times Square, numa celebração à arte e à cultura, e ali o urbanista imaginou o teatro – reinando imponente. Seguindo esse plano, Oscar Niemeyer projetou a pirâmide sem o topo. O templo para a arte ficou ainda mais expressivo com os blocos de Athos Bulcão na fachada. E, pra arrematar, o verde de Burle Marx, em jardins inacreditavelmente belos.
Se não for pela memória da cidade, ou pelo potencial turístico, que a reabertura do teatro seja pelo menos por consideração aos moradores de Brasília. Queremos o teatro de volta, mas não defendemos o uso do dinheiro do Fundo de Apoio à Cultura para isso. Seria no mínimo incoerente recuperar palcos e não ter artistas da cidade se apresentando neles…
Dentre muitas promessas não cumpridas, finalmente uma solução começa a se desenhar, e quem se dispôs a arregaçar as mangas foram os empresários da cidade, tendo à frente a Federação do Comércio de Bens e Serviços, a Fecomércio-DF.
No fim do mês, o presidente da Fecomércio, Francisco Maia, fez uma visita ao monumento, acompanhado dos secretários de Governo, José Humberto Pires, e de Cultura, Adão Cândido, para ver o estado de conservação do prédio. A visita foi acompanhada por lideranças empresariais e empreendedores da cidade, que estão dispostos a reabrir o espaço para o aniversário de 60 anos de Brasília.
“Esse equipamento não é só do governo, mas sim de toda a sociedade. Nós, como setor produtivo, estamos mobilizando os empresários para tentar arrumar uma solução para ajudar a financiar essa obra”, afirmou Francisco Maia. Uma das possibilidades é que o SESC assuma a reforma do teatro e em contrapartida fique com a gestão do espaço.
O maestro da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, Cláudio Cohen, que também participou da visita, tem esperanças de que a casa da orquestra seja reaberta o mais rápido possível. “Acredito que esse encontro é muito importante, pois mostra que tem gente preocupada em valorizar a arte do nosso país”, afirmou o maestro.
Nós, do Olhar Brasília, estamos na torcida por uma solução que reabra as portas desse monumento que é nosso. Seria a demonstração de apreço não só pela arte e pela cultura, mas pela própria cidade, que é Patrimônio da Humanidade. Um belo presente pelos 60 anos da nossa capital.
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